quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Tens namorado???

Foi isto que alguém com quase 1 metro a menos do que eu perguntou. Eu, em tom resoluto, natural e sério apontei:

- Tenho 10 namorados.
- Iaaaa! - expressão reflexiva de quem chegou à conclusão que não encaixa nas contas.

Numa idade em que a poligamia é permitida e em que a partilha não é nada de ultrajante, é até bastante divertida, esta foi a resposta mais imediata que me ocorreu e provavelmente a melhor.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Porquê poster?

Aqui me apresento outra vez. Estive a fazer um estudo fenomenológico e cheguei à conclusão que o que me fez iniciar o dia tão bem, foi tão simplesmente uma sensação maravilhosa no pré-sono de que eu e a minha cama fomos feitas uma para a outra - estava no sítio mais confortável do mundo, estava tão bem... E adormeci cheia de paz e sem pensar em nada. Durante o dia acompanhou-me, pois o humor arejado de que já ouviram falar.

Agora à noite tudo está bem diferente. Esta chiadeira que me vai na garganta - que nem é dor, nem é nada, mas é coisa que me incomoda - como se uns ferrinhos cortantes de vez em quando estivessem ali a rasgar apagou-se ontem à noite e voltou. E acho que é tudo culpa de um poster. Culpa de um poster onde vi escarrapachados dois nomes que gostaria que fossem o meu. As pessoas que estavam no poster não têm culpa e até lhes desejo muito sucesso, mas fico frustradíssima e a pensar "Como é que eu não cheguei lá?"; "Como é que não estou a chegar a outros destinos semelhantes?"-

Mexem-se bem. Há quem diga. Eu acho que sou uma tança. Perante este cenário podeis inferir que o maravilhoso sentimento de "agora" (não há antes nem depois) foi-se, para que eu ficasse a pensar no que aconteceu antes para aqueles dois nomes estarem naquele post e no que é que eu deveria fazer depois. Se isto me fizesse chegar a algum lado, mesmo que não fosse uma solução efetiva, como na altura em que eu gostava de pegar nos dados e constantemente inverter o jogo, era bom. Mas contribui apenas para um ligeiro sentimento chiado - que está lá dentro e pouco se manifesta -, mas que se se revelasse cá fora corresponderia à imagem de alguém de cotovelos sobre a mesa e cabeça enterrada nos braços.

Dias de humor arejado

Eu que para cá venho ranhosar frequentemente sobre os dias de humor de cadela, hoje tenho a anunciar que, sem que nada o fizesse prever, um humor fantástico, arejado, de satisfação plena está a tomar conta de mim. Parece que aterrei na terra neste preciso momento e que não há nada antes de mim. O que vem depois não interessa nada. Estou no agora, um agora tão radioso. Tudo está igual a ontem, mas hoje há um belo dia dentro de mim. E gosto tanto.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Há dias em que me apetece ser só humana

Vivo muitos dias da minha vida a fazer-me extra-humana. Para mim é só ser humana, na condição comum que isso implica. Mas chego à conclusão que são poucos os que se implicam como eu. Implico-me por gosto é certo. E estou nas coisas porque quero, podendo sair a qualquer momento, mais certo é. Mas diria também que também estou em tudo o que faço porque preciso. Preciso de sentir que não estou a acontecer nesta vida, mas que estou a fazer a vida acontecer em mim. Preciso de sentir que estou cá a ser uma versão maior de mim, e não uma versão trial do que poderia ser. Preciso de sentir que não estou cá para passar e apagar, mas para deixar alguma coisa naqueles que me rodeiam -e se em algum momento ou circunstância estou capaz disto não tenho porque não fazer. Sim, ninguém foi tão exigente comigo quanto eu sou para mim própria.

Assim, como sabem, sou pois uma mulher de causas e projetos. Mas essas causas e projetos são tantas vezes extra-horário e inteiramente voluntárias.  Não apetece todos os dias e há dias em que custa. Hoje, por exemplo, cheguei há 30 minutos a casa e tenho chamada marcada para as 9 da noite, sem perspetiva de quando estarei liberta. Apenas a certeza de que amanhã às 9 da manhã estou no ativo outra vez. E apetece ser só humana. Dizer que estou com dores de ouvidos e garganta, que é verdade, e ficar à beira da lareira a aquecer as mãos. Mas, quando estiver lá sentada, sei que vou sair com a certeza de que valeu a pena. E se não valer, tenho a minha mãe a fazer-me o jantar na cozinha. Uma coisa tão simples, mas por mais um trabalho que me retira, parece de anjo caído do céu.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

He likes you back

I like your dress.

He likes you back.

O anúncio da Dolce & Gabbanna (aqui linkado numa versão mais longa do que a que passa na tv) ganhou-me aqui.  Só aqui porque comecei, naqueles momentos tipicamente femininos, por duvidar e torcer o nariz perante a combinação Scarlett-McConaughey o que me obnubilou um pouco a capacidade de apreciar devidamente a beleza das imagens. Acho-o um pouco agudo e com um eterno ar de puto. E ela tem feições mais redondas, de senhora madura. Mas depois acontece aquele breve diálogo, magnificamente jogado, magnificamente desafiante que fez com que me deixasse de filmes e ficasse rendida.

É realizado por Scorsese e eu cá adoro o ar clássico e rústico de todo o anúncio. E a forma como parece claro que o the one às vezes não nasce de uma só pessoa, mas da combinação, do jogo melhor que individualmente não tinham, mas que entre elas se cria. Claro que o carro desportivo, o vestido dela e o homem que a conduz seriam coisas que estava disposta a importar já para cá.


domingo, 24 de novembro de 2013

X-factoring VI

O senhor José Freitas domina o microfone, domina a câmara e se calhar, por infortúnios da vida, passou a vida inteira a cantar em casamentos e em festas populares. Sem dúvida que merece melhor sorte e o top5. Mas não cabe no meu canal, nem de visual, nem de estilo musical, nem de tiques coreográficos.

X-factoring V

Marisa, queridinha, eu que pouco percebo e não questiono a qualidade musical deixo uma nota para o futuro em termos de coerência visual: cantar o fado em visual clássico e nails à pop-star não combina. Até sou muito aberta, e gosto da ideia de arriscar um visual adaptado à idade, mas ficar ali num 8 ou 80 desencontrado é que dá cabo do sistema.

Escolha a melhor opção

A - Entrar no carro durante a semana, ligar o rádio, e ter a Britney a ordenar numa linguagem muito pouco polida "You better work bitch";

B - Acordar de manhã (de tarde) a um domingo, depois de uma noitada, e o player mental estar a disparar um "I'm friends with the monster inside of my head" com uma ligeira alteração à versão lírica original cujo monstro está, na realidade, debaixo da cama.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Sometimes I just miss someone to talk to about nothing at all

Há duas noites que demoro mais do que devia a adormecer. Nestas horas sinto particular falta de alguém com quem falar. E há muitas pessoas na minha vida. Pessoas que, tenho a certeza, não se importavam que eu ligasse, fosse a que horas fosse. Mas sinto falta de conversa melada. E essa não se tem com toda a gente. Sinto falta daquela conversa embalada em abraços que precedem o sono. Sinto falta daquela conversa delirante que só se tem quando se fazem planos ainda mais delirantes a dois. Daquela conversa que só acontece quando se tem a certeza que o mundo, pelo menos aquele que nos interessa, começa e acaba ali.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

E galgam seres alados as escadas da assembleia

No filme "O sexto sentido" quando nos eriçamos todos, de uma forma que não é de frio, é sinal de que um ser do outro mundo está a passar por nós. Hoje, ainda há pouco, ericei-me toda quando vi as forças de segurança escadas da Assembleia acima. Não são anjos, nem entidades extraterrenas, mas são de outro mundo. São de outro mundo que não aquele de serem o centro de reivindicações e protestos. Normalmente estão do lado de lá da barreira e vê-los assim a subir, a avançar o que outros não avançaram, é já de si, um fenómeno sobrenatural que acaba por me transportar para outros episódios da nossa história. Nestes momentos tenho a certeza: estes homens têm com eles um poder que ninguém sonha.

Por outro lado ver os jornalistas, empolgados como se estivessem no meio de um tiroteio no Irão a provar que são fortes e valentes e correm riscos e caminham no meio da tempestade, a falar das forças de segurança, em serviço, quando os afastam, como aqueles que "não conseguiram fazer o seu trabalho e não nos deixam fazer o nosso" quebrou todo o poder de elevação extraterrena que esta cena estava a ter em mim.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Tão alto, com óculos tão redondos...

Hoje estive a falar com um senhor muito alto, com uns óculos muito redondos, uma barba muito branca e um discurso complexo, elaborado e eloquente. Falava muito. Daquele falar que às vezes nos faz olhar de relance para o lado para averiguar se há alguém por perto para nos salvar. Mas isso nem foi o mais peculiar. O mais peculiar, e mesmo desconfortável, foi que o senhor não tinha qualquer noção de espaço pessoal na comunicação. Vive provavelmente mais numa lógica "o ar é de todos" e o espaço é nosso para ser partilhado e sentido ao milímetro. O senhor, tão alto, curvava a cabeça até mim e falava numa voz gutural. Chegava perto - um perto que eu sentia que era em cima de mim - eu afastava, chegava perto, eu afastava, até que devagarinho me vi encurralada entre a parede e uma mesa. Era claramente um estilo comunicacional, sem qualquer segunda intenção, mas nunca me senti tão invadida na vida. À parte disso, era um bom comunicador. No estilo unidirecional. Sempre que eu tentava falar ele falava por cima, mas nos poucos momentos em que o nosso discurso se cruzou percebi que era um senhor capaz de refletir e alinhar perfeitamente com os meus pensamentos. Foi desagradável e agradável ao mesmo tempo.

Lições no silêncio dos atos

O meu pai fez anos ontem. Fez um bacharelato em economia; licenciou-se em história de arte e arqueologia; em jovem montou o próprio laboratório fotográfico em casa e transmitiu-me a mim a paixão pela fotografia; venceu campeonatos locais de ténis; pertence à federação portuguesa de tiro; venceu provas de arranque de motas; é quase imbatível no bilhar; é um apaixonado por carros desportivos e velocidade; aprendeu a fazer ilusionismo para entreter as minhas festas de aniversário mas investiu nisso com uma competência profissional; decorou a minha casa de uma ponta à outra, com um gosto e sensibilidade irrepreensíveis; acompanhou, com tanta dor quanto prazer, o próprio pai que morreu já com uma demência avançada; trata do nosso jardim de forma exímia e entretém-se a domar uma série de bichos esquisitos; aliás, quem sabe da ligação, conhecimentos e dedicação dele à bicharada tem tendência a perguntar-me se ele é biólogo.

Das coisas mais importantes que o meu pai me deu foi a certeza de que dentro de uma só pessoa cabe muita coisa.  Nunca me falou disto. Nunca formulou sequer uma frase semelhante à que escrevi acima. Diria até que tenho muito poucas conversas com o meu pai. Mas, no silêncio dos atos, falamos muito. E eu ouço muito através do exemplo.

Em momentos dramáticos sei que posso sentar-me ao lado dele e falar, falar, falar... Regra geral, com o meu pai, ao contrário do que se passa com a minha mãe, por exemplo quando estou fora as chamadas telefónicas baseiam-se em "Está tudo bem?", "Está", "Pronto, ainda bem, beijinho, tem cuidado!". E eu acho que é o que é preciso. Às vezes sinto que retirei algumas destas caraterísticas de ser esquiva e um pouco fugidia do meu pai. Outras, acho que retirei dele apenas o melhor: que é saber estar quando é preciso e que há relações que se alimentam de outras coisas que não a procura constante "Então?? Onde estás?? Que fazes?? Que vais fazer?? Que fizeste hoje??". Há relações que temos a certeza que estão lá e cortamos-lhe o acessório porque garantidamente o essencial já lá está. Mas talvez estas sejam precisamente as relações mais raras da nossa vida e que só existem com quem efetivamente é muito nosso e já trilhou toda uma história que, mesmo com poucas palavras, tem muito mais do que silêncio e vazio.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

They say she's got a blog

Quando dois bons rapazes conversam acerca do facto de eu ter um blog, eles discutem:

- sobre de qual deles os meus leitores gostarão mais ("Eles gostam mais de ti do que de mim, partes à frente, levas vantagem. Vou ter que fazer um texto catita para me apresentar a mim");

- sobre a desvantagem em que os meus leitores estão ("Caros amigos virtuais da Mary Jane, tenho pena que vocês sejam só virtuais. Ser amigo pessoal traz sérias vantagens, como receber elogios quando se utilizam palavras pomposas ou beber um whisky de 21 anos após um jogo em que o Sporting ganhou");

- sobre eventuais falhas deles ("Se eles existem é porque nós falhamos...").

Amanhã, em primeira mão, um texto em que um deles se apresenta.

domingo, 17 de novembro de 2013

X-factoring

A Mariana dos "Açoures" tem o meu aplauso em pé!

Bruno Mars - considerações a posteriori

Apesar do indivíduo ser tiny, tiny, coisa que nem um chapéu que sempre dá alguns centímetros escondia.

E de ir vestido à vaqueiro, modinha que por muito que fosse um show só costumo apreciar no carnaval.

E de fazer silêncios ensaiados aparentemente emocionados com o condão de aumentar a gritaria geral.

E do indivíduo suar por todos os lados, o que nem é mau de todo porque esforço é uma coisa bonita de se ver e um peito a reluzir tem outro charme.

Foi the hell of a show, sem um único momento parada. E todos os apesares são mínimos em relação ao tanto que foi de surpreendentemente bom. Não ouço Bruno Mars todos os dias, nem ouvirei daqui em diante porque não sou fanática, mas valeu todos os cêntimos.

sábado, 16 de novembro de 2013

Não estava preparada. . .

Não estava preparada para que a histeria adolescente começasse a dar ares da sua desgraça no autocarro a caminho de Lisboa.

Queridas, não precisam de falar tão alto que o resto do mundo não quer mesmo saber da vossa vida, por mais interessante que vos pareça e estejam para aí a divulgá-la em modo pregão. E aguentem os risos que o meu sono agradece. Bem gostava de estar a fazer coisas, ler, ver séries, mas a posição mais confortável e apetecível num autocarro continua a ser recostar no banco, fechar os olhos e inevitavelmente ficar de boca aberta a espantar a população.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Vou ser adolescente

Amanhã vou ser adolescente outra vez. É o mais provável. Há momentos na vida em que temos duas hipóteses. A primeira passa por ser engolidos pela massa histérica e perturbada de  pessoas cuja estabilização hormonal não está no seu auge (se é que alguma vez vem a estar!) e passar o tempo todo em desgaste mental a reclamar com os próprios botões (porque as condições sonoras e a excitação impossibilitam qualquer outro tipo de reclamação). A segunda hipótese passa pela junção a essa massa eufórica. Mais do que uma junção, consta da fusão nessa própria massa por forma a que a nossa própria identidade seja esquecida. Portanto, consta em bambolear e gritar e desafinar as letras das músicas e quase ter crises nervosas tal é o entusiasmo e desfrutar de paixões platónicas que morrem no dia seguinte. Vou escolher, claro, a segunda hipótese. Estou a precisar do extâse emocional que dá energia às goladas. Há trash music que pode servir bem para nos fazer felizes. E amanhã parto para Lisboa a ver se um homem me faz feliz. Chama-se Bruno Mars. E é bom que me faça tirar o pé do chão.

Dizer que não

É um desporto que tenho praticado com mais frequência. Seja pessoalmente, seja por telefone. Ainda não estou mestre na arte de dizer que não e ficar tranquila da vida. Porque quando digo que não só por ter de de tratar de coisas minhas que estou a priorizar, tenho ali segundos de achar que estou a ser má, reles e egoísta. Estes segundos acontecem sobretudo quando do lado de lá se ouve aquele "Não?" suave, frouxo e descrente de quem tinha o sim por certo. Aí uma voz mais forte do que eu, exclama antes do pensamento e de qualquer travão de censura do mesmo "Não, hoje não tenho hipótese.". Esta frase sai tão determinada e lançada do lado de cá que inibe qualquer tentativa do lado de lá que sinto que ainda poderia virar o meu "não" para um "sim" ou para um "deixa lá, eu dou um jeitinho!". E o problema é que eu estava sempre pronta para dar jeitinhos. Mas chega de jeitos. E, convenhamos, não estou a ser egoísta. Houve coisas que adiei na minha vida, para fazer aos/pelos outros, que me atrasaram a vida toda, por isso chegou a hora de não poder fazer tantos jeitos para andar eu para a frente.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Contradições

O silêncio que se passa dentro de mim faz demasiado eco.

Monotonias e deprimências

É o raio de um sarilho quando sinto que me estou a perder.

Perder coisas e pessoas, chego à conclusão, é bem menos grave.

Quanto sentimos que começamos a perder-nos, talvez por termos perdido mais coisas e pessoas do que aquelas que nos sentimos a ganhar é bem pior.

Tenho passado demasiado tempo a pensar no que devia ser. E bem menos tempo a desfrutar de quem sou. Talvez por estar a viver a época das hipóteses, a época dos "ses"; a época que comecei a encarar como a época em que tudo pode ser, mas a época em que começo agora a achar que nada é. E se antes toda a hipótese e todo o "se" eram uma coisa que estava quase a acontecer, agora parecem-me coisas que numa muito remota hipótese podem acontecer. Mas tento manter o sorriso. E vou sendo bem sucedida. E recuperando o sorriso de olhos brilhantes. Mas dura minutos em vez de horas. Reconheço-me melhor de sorriso e olhos brilhantes prolongadamente.

Chego a pensar que se enfrentasse agora alguns dos momentos mais determinantes da minha vida os condenava ao fracasso. 

É o raio de um sarilho quando sinto que sou exatamente a mesma, desde o berço até à idade em que agora me encontro; quando sinto que há um "core" fortíssimo em mim, constituído por todos os meus valores e crenças, que fazem com que não deixe de ser eu por mais que a vida mude e de repente ter alguém, daqueles alguéns que tanto importam na nossa vida a afirmar "tu mudaste e não foi pouco!". Dizem que para melhor. Mas eu, eterna agarrada ao que já fui, tendo a achar que estou a perder. A perder-me... E só espero agarrar-me rapidamente. 

terça-feira, 12 de novembro de 2013

É a melhor pessoa do mundo e não sabe

A minha avó.

É quando me sento ao colo dela, e, na voz mais meiga do mundo,  no seu ar de senhora polida e na sua pronúncia do norte diz "Ó meu "carbalho", estás a partir-me os ossos todos." e por entre risos vai pedindo "Sai daí que eu não posso!".

É quando me convida a ir visitar a micro-plantação de morangos dela para orgulhosamente mostrar os 6 exemplares ainda verdes "Para o ano já vou ter muitos e posso fazer uma sobremesa de morangos com chantilly. Ou quem cá ficar faz!". É especialmente porque quando perante o frio que está lá fora estou prestes a rejeitar o seu convite de ir ver os morangos "Não, deixa estar, fica para próxima!", mas sei que não lhe posso, a ela, dizer uma coisa destas e que devo ver tudo o que ela me quiser mostrar mesmo que esteja escondido no cume dos alpes.

É quando lhe levo roupa que tenho medo de lavar em casa e ela responde com um delicado "Eu racho-te!" mas dali a nada está feliz a dar-me a roupa a cheirar acabada de sair da máquina, a recomendar que leve mais e com um brilho nos olhos que raramente lhe vejo porque a vida foi amarga com ela por de mais.

É quando lhe descubro um carisma que fico a saber que se ela não existisse como inspiração, provavelmente também eu não tinha.

É quando acha que se eu só comer um iogurte ao lanche sou capaz de morrer à fome e não descansa enquanto não me oferece um pão.

É quando liga para o próprio telemóvel, atende o meu avô e ela pergunta "Olha, viste o meu telemóvel?".

É quando se oferece para me levar à garagem de elevador, só para eu não ir pelas traseiras do prédio ter ao estacionamento e andar mais meio metro a pé. É até mesmo quando desnorteada se prepara para sair do elevador por achar que não tem a chave certa, com ela na mão, "Ai filha, é a idade" e quando respondo que eu, com muito menos, sou capaz de fazer cenas piores responde "Sou eu que gosto de ser especial, não é?". Gosta e é.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Sónia Tavares - a surpresa melada

As pessoas ao longe até podem ser bem diferentes do que são ao perto, mas se há coisa que aprecio mais neste X-factor, em oposição ao Ídolos, apesar de embirrar um pouco com a divisão proposta por grupos, é da dimensão mais humana que os jurados parecem ter.

No início do programa achei que aquilo ia escorregar brutalmente por não terem jurados carismáticos, mas agora estou num estado de paixão pela Sónia Tavares. Não acho que nenhum dos membros do júri teça comentários tecnicamente apurados. Muitas vezes encontro as opiniões deles até muito vazias, mas o coração melado com que a mulher tem estado nos programas, sendo esta a atitude mais profissional ou não - porque na verdade muitas vezes o coração parece falar mais alto do que a razão - faz disparar os meus sentimentos de identificação. Há-de chegar um dia em que provavelmente vou achar pieguisse a mais. Por agora acho-a só um amor, uma querida, e um ser humano como deve ser. E de cada vez que ela está prestes a pôr a alma fora na dificuldade de cada decisão, uma parte de mim fica perto dela.

domingo, 10 de novembro de 2013

X-factoring III

Caro Zé Freitas, a prestação até está bem, mas aqueles tiques de microfone. . . Preciso de anulá-los para continuar a disfrutar.

Expectations versus reality

Expectativas - Vai ser uma grande noite. Só lá para as 4 é que estou em casa.

Realidade - À 1 da manhã estou em casa a assistir à noite dos outros via instagram.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Sem saberes fazes de mim maior


Às vezes quando olho às estatísticas do meu blog fico um bocado parva. Mesmo admitindo que uma boa parte das pessoas chegam por engano e outra parte abre e fecha o blog é giro pensar como ficariam todos acumulados numa salinha. Como seria se em vez de me lerem todos estivessem a olhar para mim aqui na sala de minha casa. Como seriam? Que dimensão fariam? Cabiam todos ou é preciso imaginar-vos num auditório?

Se, como diz o poeta, eu sou do tamanho do que vejo, ver estes números já faz de mim grandinha. Mas são só números. A verdade é que descubro-me maior do que penso quando depois de um post uma das palavras que leio é um "obrigado/a". Um obrigada que sei sincero pelas palavras que o acompanham. Descubro-me maior do que penso quando os que estão aí escondidos me escrevem um comentário que revela que por trás do anonimato há todo um conhecimento de mim. Quando mostram que sabem que são mais novos que eu. Quando falam de hábitos meus. Quando mencionam algo que já aqui escrevi.

Já lá vai um tempo de blog e, confesso, já vivi tempos mais apaixonada. Mas se me mantenho por aqui também é muito pelos que sinto que me escutam. Esta sou eu. Não sou eu sempre. Mas é o que eu sou às vezes - em momentos que ficam encapsulados naquele espaço de tempo próprio em que existiram. E, acreditem, tem vezes que me conhecem aqui como mais ninguém me descobriu. Obrigada. Sinceramente.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Mary Jane e a primeira série engolida da primeira à última temporada

Sex and the City está oficialmente terminado depois de uma série de episódios com a glândula lacrimal em trabalho intensivo. Uma parte de mim esteve descrente ao longo de todo o processo, por isso era com um entusiasmo adolescente que punha sempre a carregar o próximo episódio (geralmente selecionava até um episódio anterior, que já tinha visto, antes do certo descrente do avanço com que estava).

Tenho a certeza que não é a série mais fenomenal de sempre para ver, já vi episódios de séries bem melhores, mas esta foi a primeira que levei até ao fim. Ainda não sei explicar bem isto, mas não consigo evitar refletir que se traduz numa série de outras situações da minha vida. Porque é que opto às vezes pelo médio, que conheço e consigo prever relativamente bem, em vez de me deixar levar / cativar pelo extraordinário, capaz de abanar comigo? Talvez na vida se queira tudo na dose certa. Uma dose tranquila, branda que não afete o geral fluir dos acontecimentos e que permita à máquina humana prosseguir sem grandes necessidades de adaptação é mais segura. Lá se diz que, por exemplo, o estado de paixão não pode durar para sempre, e tem forçosamente de se transformar numa forma mais branda a que se convencionou chamar "amor" ou então viveríamos alheados, improdutivos e incapazes de nos focalizarmos em coisas mundialmente relevantes. 

E pronto acabei de realizar um exercício Carrie-ológico, que é precisamente das melhores coisas que retirei desta série. Em parte já existia em mim, esta mania de pensar as pessoas e relações a partir de pequenos estímulos, mas a verdade é que Sex and th City foi, em tantos momentos, uma âncora ao meu processo reflexivo sobre coisas aparentemente relevantes, mas que são apenas momentos de puro deleite existencial (quem sou eu? o que estou aqui a fazer? o que é que quero para mim?).

Alguma sugestão para próxima série??

Uma das desvantagens de seguir fashion bloggers no instagram

É, sem dúvida, o facto de veres fotos de pequeno-almoço de hotel em base diária que se tornam ainda mais agressivas quando tu ainda não tomaste o teu verdadeiramente pequeno e reles pequeno-almoço. Uma parte de ti promete fazer-se uma fashion blogger em menos de 15 dias. Uma parte ainda maior acha que não nasceste para esse ofício que continuas a julgar (tu, Mary Jane, que não te achas julgadora!) como ridículo. Quer dizer, fazer um post ocasional "Olha que linda que eu estou" ainda vai. Fazer disso base diária é complicado. Além disso, lembras-te que estes grandes-almoços disfarçados de pequeno-almoço provêm de bloggers espanholas, portanto se queres tantas regalias antes de mais tinhas de mudar para Espanha.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Já vos falei do Gravity?

E disse que fui ver o filme numa sala, onde não fossem ter entrado duas pessoas com o filme prestes a começar, podia ter-me despido e tudo?

E que passei o filme todo a tentar encontrar uma justificação para o filme ter 8.6 no IMBD recostada na cadeira imune a entusiasmo?

E que quando acabou pensei que estava a meio?

E que não vi o filme em 3D e que portanto, em caso de dúvida, é melhor irem ver em 3D porque já acho que pode ser mesmo isso que faz toda a diferença (e que isto sou eu a continuar a tentar justificações para o filme ter descido apenas para uma pontuação de 8.5)?

E que talvez levar a expectativa dos 8.5 seja a pior forma de ir ver este filme? Pois, se ainda não o foram ver não estou a estragar nada. Não vão. O Don Jon, por exemplo é melhor. Alguma dúvida é consultar as pontuações na Movie List.


terça-feira, 5 de novembro de 2013

Crazyness hits you again

Sabes que esta coisa do desemprego, quando volta a assomar-se de ti, agora que grande parte das coisas pontuais que te foram dando rendimento e sobretudo ocupação desaparecem e são poucas as que ficam, volta a mexer com a tua estabilidade quando dás por ti a fazer pesquisas no google ao melhor estilo "coisas para fazer quando se está desempregado". Mas em inglês que é mais fino, vá. Até tens coisas para fazer, continuando mestre nessa habilidade de arranjar sempre algo que fazer, mas quem sabe se nesta lista não vem uma luz descida dos céus com algo que não pensaste ainda e que te poderá conduzir, num futuro próximo, a dar beijinhos a um cheque chorudo ao fim do mês.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Eles, elas e os planos de programas

Ontem, assim na loucura, e quando me preparava para lançar uma enxurrada de motivos para não sair de casa - a roupa de inverno que ainda tenho para arrumar, a tralhinha que tenho espalhada um pouco por toda a casa e que deve voltar aos sítios, os 3 e-mails que tenho de mandar, os planeamentos de trabalho, etc, etc, etc - decidi calar esses motivos e alinhar num programa marcado na hora. E teve um saborzinho a liberdade tão bom...

No fim do dia, e perante a minha insistência de que se marcassem programas diversicados com tempo para uma pessoa se poder organizar porque e tal, agenda, já tenho coisas até ao fim do ano - que drama! - é mais fácil alinhar e ir sabendo das coisas com antecedência, eles explicaram-me que gajo que é gajo não pode planear com muita antecedência.

Os gajos apetece-lhes fazer qualquer coisa e vão. É assim, pensa-se e faz-se. Se têm alguma coisa marcada com muita antecedência perdem a vontade.

Isto fez-me pensar que ter namorido talvez seja bem mais seguro e interessante do que ter marido. Sabe-se lá se com a relação institucionalizada na agenda a coisa não perde em intensidade, espontaneidade e piada...


domingo, 3 de novembro de 2013

Seu inconveniente!

Estava eu acompanhada por um indivíduo de discurso suave, sorriso suave, fato suave (o fato era numa espécie de veludo azul forte que por incrível que pareça não lhe ficava piroso) a escolher o que iria jantar (seguindo-se certamente um final feliz) quando:

Bzzzzz, bzzzzzz...

O despertador interrompeu toda a cena.

sábado, 2 de novembro de 2013

Queria poder gritar-te "Não te esqueças de mim"

Há dias lia "saber que se caiu no esquecimento de alguém deve ser das coisas mais tristes que podemos experimentar e sentir. A irrelevância perante a memória do outro, a noção de que não marcámos, que nada mudámos. É como se não tivéssemos existido.". Talvez isto me seja especialmente caro porque sou uma pessoa achacada a memórias. E nessas tu tens um lugar incontestável, como tão bem diz a canção "'till I find somebody new.". E encontrar não é encontrar de dar de caras, é eventualmente encontrar de me perder no outro. Por um lado assusta-me que ninguém novo tenha substituído as memórias que tenho de ti, as memórias que tenho de nós (e é de substituir que se trata?!). Às vezes digo injustamente que é porque ninguém lhes chegou aos calcanhares. Mas a verdade é que mais do que uma pessoa chegou. Mais do que uma pessoa caminhou para construir memórias tão épicas como aquelas que tive contigo. Mais do que uma pessoa mostrou a esta sortuda que os filmes e os livros não são exagerados e o amor acontece mesmo na vida real com todo o colorido que lhe vemos nos filmes.  E eu achei que também estava a sentir esse "amor", envolvi-me nesse "amor" até ter uma necessidade súbita de pôr uma rolha nesse amor que já me parecia amor a mais. Mas talvez não estivesse preparada para matar as tuas memórias. Para aceitar que um outro alguém pudesse ficar tão guardado como tu ficaste. Como podia ousar deixar alguém chegar onde tu chegaste?

Deve estar no meu ADN. Fui apaixonada pelo meu namorado platónico da escola primária durante 7 anos. E ainda há uns tempos, quando o revi, juro que senti um ligeiro fogo de artificio quando ele encostou a cabeça à minha e um orgulho gigante quando na despedida ele reforça "Foi mesmo muito prazer". Tinha tudo para ter dado certo, mas agora não me identifico com a via e vida esotérica que ele seguiu. E a verdade é que o lado que não me assusta tem precisamente a ver com isto, sei que sou apaixonada por memórias e não pela pessoa que agora és, que nem sei quem é... Parece complicado, mas não é. Não estou apaixonada por ti, não te quero à minha porta, mas pesam-me as tuas memórias. Parece complicado, e se calhar até é. Se calhar não podes existir para sempre onde estás agora. Se calhar preciso de entrar numa cápsula que sugue o peso que estas memórias têm em mim, so I can move on... Para que eu possa seguir sem medo que outras memórias façam esquecer as tuas. Para que eu possa seguir sem medo que eu tenha sido uma passagem longa, mas insignificante.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A minha maior mentira de sempre

Quando as pessoas me dizem "Há uma hipótese, mas não digas a ninguém, nem fiques com expectativas que não é nada certo.", eu digo a maior mentira de sempre que cabe numa expressão tão mínima como "Está bem!". Está bem, não digo nada a ninguém. Não está bem em relação à expectativa.

E claro. Quanto mais me digo para não pensar no assunto mais penso. O melhor é manter-me ocupada, pois se mesmo na atividade está complicado silenciar esta vozinha que não se cala dentro de mim, expectante por notícias, no silêncio o assunto absorve-me completamente. Estou em desregulação absoluta e fico até com medo de falar do assunto, seja a quem for, com a ideia maníaca, de que se falo, não se concretiza. O próprio facto de estar a escrever aqui força-me a ver dirigido a mim um enorme dedo de culpa!