Uma das coisas que me deixou mais saudade foi, inevitavelmente, o quarto.
O quarto que era mais nosso do que qualquer outro sítio. E digo isto não só porque era o espaço que tinha mais fotos nossas, bilhetes nossos, cartas nossas e outras coisas que falavam directamente do que nós fomos (e que às vezes me pergunto onde terão ido parar), mas sobretudo porque estava carregado de memórias nossas, daquelas que não se expõem e que só nós poderíamos contar. De restos que por momentos me deixaram a vida em suspenso...
Aquele quarto estava carregado do orgulho com que ele dizia que aquela ia ser a minha parede. Parede essa que se enchia, sem vergonha de quem entrasse para ver, com fotos simples, com montagens, com bilhetes, entre outras coisas. Aquele quarto foi meu sem que eu alguma vez o pedisse, nem que ele alguma vez o afirmasse. Foi meu de cada vez que abri a gaveta e, já sem pedir, calcei meias dele porque não consigo dormir descalça. Foi meu quando no armário já existiam um ou dois pijamas meus. Foi meu quando já todo o material técnico necessário ao uso de lentes contacto tinha residência fixa lá. Foi meu em todas as conversas fora de horas. Foi meu daquela vez em que acordei, o acordei a seguir e pedi para que fosse mandar calar o vizinho, provavelmente ganzado, a tocar guitarra eléctrica e a produzir vocalizações às 3 da manhã. Foi meu de cada vez que lá entrei sem ele. Foi meu de cada vez que foi a morada oficial do meu traje. Foi meu de cada vez que pensei, mesmo sendo aquele um quarto velho, cheio de humidade, pequeno e limpo duas vezes por ano, que aquele era o melhor lugar do mundo.
Mas agora só eu é que sou minha e, por isso, tenho de fazer deste "eu" o melhor lugar do mundo.
este texto foi um murro no estômago. realmente, se pensarmos bem, os 'nossos' sítios estão cheios de lembranças, de recordações, de memórias, e depois só resta saber encontrar-nos novamente. espero que o faças :)
ResponderEliminartens boas memórias desse quarto, mas é como tudo na vida, tudo tem um fim, quem sabe um dia mais tarde não o voltas a ver?
ResponderEliminarAi, Mary Jane.. Estou quase de lágrimas ao cantinho dos olhos, rapariga! Por muito que tudo isso tenha sido especial, o que interessa é que a conclusão é a mais válida de todas: tu é que tens que ser o teu mundo. Força nisso! :)
ResponderEliminarÉ bom que tenhas recordações assim, sinal de que foram importantes e vividas.
ResponderEliminarFogo Mary Jane até me fez confusão ler isso...estou num namoro há 3 anos e já sinto que o quarto dele também é meu, mas que o meu também é dele...como tantas outras coisas, que tenho medo que um dia acabem...
ResponderEliminarDesejo-te muita força para ultrapassares isso
As tuas palavras fazem(-me) sempre tão bem...
ResponderEliminar.. :) É isso, tem que ser mesmo o melhor lugar do mundo!
ResponderEliminarDeixaste-me sem palavras com este texto. De tão verdadeiro. De tão real. De tão palpável.
É duro quando nos sentimos tão meu no lugar que num instante é TÃO nosso e no outro é TÃO dele...
ResponderEliminar(parabéns pelo texto)
Um beijinho
Partilho muito deste teu estado de espírito neste momento... Acreditemos que foram passagens para que o nosso mundo se tornasse melhor, que foram apenas caminhos para algo bem melhor, ainda que os caminhos sejam dolorosos (e tanto) e que pareça impossivel que vamos ter melhor...muita força!
ResponderEliminarohh, que post tão bonito. há lugares que são nossos de tantas vezes que lá fomos felizes. depois cabe-nos a nós a dificil tarefa de os deixar ser de outro alguém. espero que o consigas fazer, à tua maneira, com o teu tempo.
ResponderEliminar