domingo, 3 de junho de 2012

As pessoas que definem a minha vida

Continuo a ir de férias para o mesmo sítio que vou quase desde que nasci. Não fui no primeiro ano de vida. E não fui porque, como hoje sei, aquele é um dos melhores lugares do mundo e não havia força para enfrentar o seu peso com uma pessoa em falta. O irmão da minha mãe morrera naquele ano, num acidente de mota. Não me lembro, claro, mas imagino o que custou aos meus avós voltar. Imagino o que doeu porque a Teresa*, esposa do meu padrinho, foi para lá no ano em que ele morreu, mas não conseguiu ir até à praia . Já tinham passado uns meses, mas ali moravam tantas memórias... Tal como a Teresa, recordo a Maria* a chegar à praia, com alguns dos netos do meu padrinho. T-shirt cor-de-rosa comprida, óculos escuros, um silêncio que ninguém perturbou, lágrimas a percorrer a face e a resvalar à beira mar. Um sofrimento discreto para garantir que os miúdos se apercebiam o menos possível. Para garantir que aquele para eles permaneceria um dos melhores lugares do mundo. E tenho a certeza que é. A nossa praia está no centro de cada um de nós, está no centro de um orgulho desmedido que sinto quando olho para nós. 

É fantástico olhar à volta e saber que temos trejeitos de ciganos, porque a sul, de onde nem sequer somos originários, estendemos a toalha, em comunidade, um pouco mais de 30 da mesma família, entre miúdos, graúdos e apêndices que se vão juntando ao ramalhete.  E tantos desses que ali, precisamente ali, foram apresentados, ou antes de ser oficialmente apresentados, escondidos. Esses que vêm no fundo da praia e começam a sentir que não vieram conhecer 2 ou 3 pessoas - têm não sei quantos mirones em tentativas nada discretas de observação. Ainda me lembro da minha irmã o ano passado: "Maria, controla-te, por favor, não vais envergonhá-lo. "

Por isso é que, quando eu olho para todos nós, mãos apoiadas na cintura, com os pés entretidos entre o mar e a areia - ora mar, ora areia - tenho a certeza que não há nada que substitua as pessoas da minha vida. Por muito que já me tenha sabido bem acabar disciplinas com 20s, por muito que receba louvores pelos meus afazeres profissionais, por muito que seja uma mulher polivalente e que encontre várias coisas que me preencham, como a dança, o teatro, a Psicologia, essas coisas todas que já sabem. As pessoas definem-me e são elas que me dão força para tudo o resto.  São os abraços que não acabam do pequeno Bernardo*, o miúdo de dois anos que dá melhores abraços, mais intensos e mais apertados. É ouvir a minha tia-avó Rita* dizer que fui a primeira neta dela e, no fundo, sentir que não só fui como continuo a ser. É sentir a Rosa*, que tomou conta de mim desde pequenina também presente naquela praia. Ouvir a Rosa, dizer pérolas como "Não olhes para esse que é velho, olha para homens novos", enquanto contemplo uma revista com o Dr. House em evidência, ou um "Eles apertam-te assim pela cintura e dizem: Ó filha, queres aqui ou queres na cama?". É ouvir a Teresa dizer que aquela é a prenda do meu padrinho, mesmo que ele já não esteja cá, e saber que além de prolongar a memória dele, ela se assumiu como minha padrinha. É o tio-avô Pedro* a recomendar "contenção!" e "cuidado com o gangseterismo!". São o Zé*, o Tomás* e o Nuno*, apêndices para quem, por me terem conhecido em criança, acho que serei para sempre a Mary Janinha.

"Passou tão depressa. Cresceste tão depressa, mas sempre a nossa menina. Batíamos à porta e «Nao caja!Não caja»". Claro que "não casa", a minha casa são todos vocês.


*nomes inventados para não encher isto de letras com ponto

2 comentários:

  1. é família e está tudo dito. são aqueles que estão sempre lá para nós, no matter what. e depois há aqueles que escolhemos para nossa família... :)

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  2. E quando temos uma família dessas, o sentimento de gratidão permanecerá em toda a nossa vida! :)

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