... hoje olho para ele como um texto engraçadito em algumas partes. Melodramático noutras.
(...)
Enfim, meu amor. Perdeste-me
porque não me sentaste num qualquer banco em Paris, agarraste o meu rosto e disseste “Quero conhecer o mundo contigo”.
Ou perdi-me eu, quando, por algum momento, sonhei que o pudesses fazer.
Perdeste-me porque elogiaste a minha capacidade de planeamento e a tua
capacidade de orientação e a nossa capacidade de funcionar juntos como
máquinas. Perdeste-me porque eu não sou uma máquina. Tenho coração. Um coração
frágil, mas pouco agarrado a convenções, que tu deixaste cair. Perdeste-me quando
te pedi que ficasses comigo e tu continuaste a planar - não saíste, nem ficaste. À minha orientação depois voaste. E voaste bem, porque estamos aqui para
ser felizes, não para fazer favores… E não podemos obrigar ninguém a ser o que
queremos, a assentar numa moldura onde já não há qualquer possibilidade de
encaixe. E eu sei, embora o lamente profundamente, que o vidro estalou e já não estou na tua moldura. Perdeste-me porque não me lembro da última vez que
olhaste para mim apaixonado e eu lembro-me de tantas em que olhei para ti
apaixonada. Perdeste-me porque deixei de me perder no teu corpo. Perdeste-me
porque não foste capaz de ser o meu super-homem, que não precisava de capa, só
precisava de me fazer sentir uma super-mulher, sem capa. Perdeste-me porque se não
escrevi aquela dedicatória mais apaixonada foi porque não senti que fosse capaz de
o fazer. Perdeste-me porque eu me perdi e esqueci-me do que te fez apaixonar-te
por mim. Perdeste-me porque deixei de fazer diferença e deixaste de querer
fazer a diferença. Perdeste-me quando depois daquela noite, deitada no teu
colo, melosa e deliciada a pensar «afinal,
isto pode dar certo», se desfizeram planos que nem sequer se fizeram. Eram planos, então? Perdeste-me porque eu não sou um prémio para exibir na montra. Perdeste-me
quando perante os meus sentimentos tudo o que me disseste foi um verbalizado “LOL, M.”. LOL. Também eu pensei
que íamos ficar juntos para sempre. Perdeste-me e perdi-te…
Como um dia escreveste «olhava-te e
tu retribuías o olhar. Sentia-te e tu sentias-me a mim.». Agora não sinto
nada. E o que mais dói é isto: o nada. Do tudo, ficou o nada porque te esqueceste que, lá no fundo, eu continuo a ser aquela miúda com
16 anos e preciso de coisas tão simples como que me parem – como quem diz, tu fazes parar o meu tempo – que me
agarrem as mãos, que me sentem em mesas de ping-pong, que me segurem o rosto, que
me olhem nos olhos e confessem “Eu estava
a falar a sério. Eu gosto mesmo de ti.”.
Adorei.
ResponderEliminar<3
todos os amores, têm um quê de melodrama!:)
ResponderEliminarainda bem que o encaras de outra maneira agora. esta muito bem escrito, bonito mas triste...
ResponderEliminarM.,
ResponderEliminar:)
...Ju...,
claro, há sempre uma grande dose que é colorido próprio de estados de encantamento maiores.
Hermione,
já não tão triste :)
este post toca-me especialmente porque me revejo nas coisas tão simples que descreves como necessárias. eu preciso de pouco para ser feliz, mas preciso que esse pouco seja feito com vontade, que seja apaixonado. quando estamos numa relação que se quer pra vida, há que dar sempre atenção a esses pequenos nadas tão simples. Infelizmente, com o tempo e a rotina, há muitas coisas que ficam adormecidas. Mas eu quero acreditar que há sempre aqueles que conseguem voltar a acordá-las e que nunca as deixam morrer. Eu gosto de acreditar em finais felizes...
ResponderEliminarAcredito que agora, mais destanciada, possas olhar para este texto de outra forma... Mas tenho que te dizer que adorei a forma como o escreveste... ;)
ResponderEliminarÉ normal, quando o sentimento deixa de ser o mesmo as coisas já não fazem o mesmo sentido! Também tenho para ali um caderno com umas pérolas escritas na minha adolescência e já não transmitem o que transmitiam na altura! :)
ResponderEliminarFico contente por já não te custar tanto, Mary Jane. Este texto está tão lindo.. É mesmo a história dum amor que teve tanto e que se foi perdendo. Um dia disseste-me que a minha nova história te inspirava.. Espero que sim :) Fiz o meu luto, tive o meu tempo para estar sozinha e para nem sequer querer ninguém, mas olha.. Depois o amor voltou a aparecer e, quando vier da forma mais discreta possível, tu nem vais ter tempo de dizer que não :)
ResponderEliminarM.,
ResponderEliminareu sei, querida M., sei que és parceira no reconhecimento das coisas simples :) É isso mesmo. Foi muito e perdeu-se. Mas foi bom :)
Jo,
e se o partilhei foi porque senti que aqui tinha quem o fosse apreciar agora que também o aprecio com o tempo necessário para já não o sentir tanto em todas as entranhas!
Jude,
vale a pena recordar pérolas. Às vezes encontramos coisas que fazem sentido, muito sentido, ou então em relação às quais é pertinente repensar o sentido.
i,
minha doce i.... Sinto sempre um carinho incrível de ti e sei que serás a primeira a ficar radiante quando anunciar que "It's a new day, it's a new dawn, it's a new life, for me" :P
Quando uma relação acaba, a meu ver, de certa forma, ambas as partes se perderam.
ResponderEliminarQue texto bonito! Mary Jane, tu tens mesmo aí qualquer coisa rapariga! Já foste a alguma editora? :P Olhaa que eu ia! :)
ResponderEliminarMas estas tuas palavras dizem-me algo em especial, nomeadamente porque sinto que o que descreves já aconteceu comigo. Afinal, quem já não teve um grande amor que foi embora ou que acabou? Está tão bonito mas tão "realista"... Meu Deus! Mas o que é certo é que, deixando o tempo passar, também o coração se encarrega de mudar alguma coisa...
Joana,
ResponderEliminare tens toda a razão. Por isso é que há sempre um perdeste-te e um perdi-me.
Pam,
vocês enchem-me de mimos :) O que faço é só escrever com verdade, deixar fluir e acho que a partir daí a identificação se torna mais fácil do que se estivesse simplesmente a "brincar" com os sentimentos, a "montar" sentimentos. Gosto de escrever desde que me conheço, mas nunca pensei em editar. Isso é para outros campeonatos!