sábado, 3 de novembro de 2012

Sou espalhafatosamente discreta ou música do momento #21

Sou espalhafatosamente discreta no que toca ao que vai cá dentro. Digo isto porque no meu dia-a-dia, no meio da alegria, da simpatia, do envolvimento, do entusiasmo por tudo o que parece que me pode fazer pulsar mais um bocadinho, ninguém sonha, ninguém desconfia, ninguém conta as dores que por cá passaram. E quando, de vez em quando caio, a incredulidade é a reacção comum de todos. Ainda sou aquela que (parece que) nunca quebra. Mas este ano eu assumo, quebrei muito. E tenho saudades de muitas pessoas. Perdi muitas pessoas este ano. Foram mais aquelas que perdi, do que aquelas que segurei cá. Não sei bem porquê. Sei que foi culpa minha deixar tudo voar... Não quis segurar ninguém porque nem a mim me segurava bem. Às vezes nos momentos de maior golpe de vazio apetece-me resgatar toda a gente, chamar toda a gente, acordar toda a gente, mas não o faço, porque se cresce melhor sozinha.

Ganhei coisas, claro. Profissionalmente apareceram coisas. Não fui condenada a um ano de sofá como tanto temia. Fui elogiada. Tenho sido elogiada. Envolvi-me em novos projectos, enchi-me de coisas, e mais coisas, iludida de que com coisas me enchia de vida, mas a verdade é que queria enganar o tempo: queria despejar-me de tempo para pensar em mim. Pensar em coisas, fossem quais fossem, seria mais produtivo para recalcar. E foi produtivo porque as coisas em que me envolvi são sérias e fazem de mim uma pessoa geralmente apreciada na comunidade. Mas a verdade é que continuo a sentir-me alforreca - não é que as alforrecas não tenham vida, mas a mim sugere-me sempre uma coisa que pulsa desinteressadamente com a maré e abana ali só o esqueleto de vez em quando. E não gosto de me sentir alforreca, porque vocês sabem que sou pessoa de acção.

De resto saibam que não há motivos para eu não estar bem. A verdade é que com razão, ou sem ela, termino o ano (este ano entrei precocemente em balanços, eu sei!) com a sensação de que o detestei e com vontade de lhe espetar com a porta de encerramento bem forte na cara. Mas pronto, isto é só um momento de pieguisse a que me dei ao luxo - porque até dizem que um blog pode ser um bom divã - que vai passar já. É um desabafo tê-pê-émico, apesar de não estar nessa altura do mês, ou um estado temporário induzido pela música que estou a ouvir que puxa às angústias filosófico-existencias, e daqui a nada, estou bem. Prometo. A mim mesma em primeiro lugar que gosto muito desta criatura que cá habita.


tempo a mais não é bom
mostra o que eu não devo ver e eu
tento então não olhar 
mas o que eu não queria ver 
sou eu

10 comentários:

  1. Alforreca é bom, não tem preocupações com a vida e quem se chega a elas tem logo de começar a fugir. Tens de ver a coisa pela perspectiva da alforreca :)
    Bem, agora fora de brincadeiras... essa fase há-de passar, e has-de começar a sentir-te mais produtiva e com gosto pelo o que fazes.

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  2. É sempre bom ocupar a cabeça com algo para não pensar nas coisas más da vida, também sou um pouco assim...Gostei da música!

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  3. Gosto muito de Doismileoito primeiro :)

    Depois... fizeste-me pensar. A mim fazem-me bem esses momentos que até podem desanimar, mas deixam-me de certeza com a cabeça no sítio. É sempre bom fazer um balanço, seja lá quando for, para saber se continuas no caminho que queres seguir :) Agora isso de balanços de final de ano no início de Novembro não resulta muito bem. Há 3 anos fiz um assim e umas semanas depois a minha vida voltou a dar duas cambalhotas. Boas, que foi quando conheci o meu namorado :)

    Continua atrás do que queres. Porque ser alforreca é bom, mas só umas semanas por ano, de preferência na praia :p

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  4. acho que esse tipo de momentos todos temos. eu adoro pensar nas coisas boas e más que vão aparecendo ao longo da minha vida. se há algumas que me fazem maldizer tudo, depois lá encontro esperança nas coisas boas que vão aparecendo. profissionalmente e pessoalmente, claro, porque tudo faz parte.

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  5. São momentos, momentos que acontecem a muito boa gente, nem sempre são maus e muitas vezes até são bons. Servem para vermos o que fizemos certo e errado, para não os voltarmos a fazer, para crescer. Chama-se viver e viver é bom. :D Bjinho

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  6. E logo agora tinhas que escrever uma coisa assim para me pôr a pensar...

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  7. dinona,
    é sempre bom quando nos ajudam a pensar nas coisas coisas noutra perspectiva! Mas a questão é que a nível profissional está tudo bem, e sinto-me produtiva e gosto sempre do que faço (nesse aspecto até sou fácil de contentar!), o problema é tudo o resto!

    Jovem,
    é bom, mas um bocado errado, há coisas que têm que ser pensadas, não podem ser simplesmente saltadas. Se forem saltadas volta e meia estão no nosso caminho outra vez!

    Carolina.,
    comecei a ouvi-los depois do teu programa de rádio :)
    E sim, concordo com a tua perspectiva também e com a ideia de que um bocadinho de reflexão mesmo que nos deixe algo abatidas faz bem. De resto, acho que os caminhos que tenho trilhado têm sido os acertados, às vezes gostava era de adiantar a viagem! Do género, era muito agradável que estes últimos meses me reservassem algo como reservaram a ti mas acho, de todo, improvável :)

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  8. Hermione,
    eu acho que é bom pensar no bom e no mau em fases boas :D mas no resto dos momentos também faz parte, claro.

    Gaja Maria,
    e quando achamos que fazemos tudo bem e mesmo assim parece que as coisas não se encaminham como queremos? É o desafiante aqui. Responder-te ajudou-me a perceber que talvez a paciência seja o que neste momento preciso de cultivar para crescer :)

    Jude,
    mulher, não penses muito que faz mal :P

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  9. Estou exatamente como tu.. fechada para balanço deste 2012 e a desejar ansiosamente que chegue 2013, que desde já(para mim) promete ser um ano que irremediavelmente marcante.

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  10. 13 é um número do caraças, mas pronto, há-de trazer coisas boas!

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