sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Não sei entregar-me à desorientação

O que seria do mundo sem pirosisses? 
Um lugar muito dark.
So, be my light...
Talvez um dia tenha coragem, como a Alice, para me atirar para um buraco no qual não reconheço imediatamente o fundo. Mas o buraco tem de ser assim, tal e qual o da Alice, enorme, cheio de gavetas e departamentos que me entretenho a descobrir e que fazem esquecer do perigo da queda.



Tenho estado a observar, a medo... E quando percebo que, à hora de dormir, levo preocupações que me demoram o momento em que me dou tréguas de pensar, sei que há coisas que tenho de mudar. Gosto de medir os meus passos, gosto de saber o solo que piso, conhecendo-o na sua essência, e não cedo facilmente ao desconhecido. Tenho arriscado pouco. Às vezes mais pelos outros do que por mim bloqueio-me de ser e de sentir. Até porque sendo mais e sentindo mais eu sei que sou melhor e que se constrói potencial difícil de apagar na memória. Além disso, aprendi que há gestos que são lidos como promessas. E promessas quebradas magoam de uma forma que eu não quero magoar ninguém. Não gosto de agarrar para pouco depois largar, não consigo aderir com suavidade a uma perspectiva experimental "vai-se indo e vai-se vendo" sabendo que quanto mais se vai mais difícil é voltar e que este vai-se indo e vai-se vendo é um engodo.   À medida que se vai indo, na maior parte dos casos, e sobretudo quando há sentimento, vai-se cobrando, não há essa do "ir levemente" e como se nada fosse. É-se sempre qualquer coisa, a todo o momento.

Há que admitir que talvez demore sempre de mais a perceber que vale a pena. Há que admitir que tenho sorte e que às vezes têm muita paciência comigo. Há que admitir que apesar de não saber entregar-me à desorientação, só espero ser violentamente desorientada, um dia.

Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos pensar que entendo, não sei entregar-me à desorientação.
Clarice Lispector

10 comentários:

  1. acho que ser qq coisa , a todo o momento, é um dos "problemas" de ser psicólogo.. força*

    gostei da musica, alice

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  2. Esses "vai-se indo" e vai-se vendo" não têm de ser necessariamente maus. Mas se um já sabe que não vai haver evolução então mais vale cortar logo do que estar a alimentar esperanças.

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    1. É por aí. Quando se vai indo e se vai vendo nem sempre se vai ao mesmo ritmo.

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  3. eu também tenho um bocado de medo do desconhecido, mas às vezes sabe bem deixar ir, entrar no buraco e ver no que é que dá... quem não arrisca, não petisca ;)

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    1. True :) Por isso é que me tenho empurrado mais para a frente!

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  4. Olá! Gostava que passasse no meu blogue e deixasse a sua opinião. Se gostar, partilhe pelos seus leitores. Obrigada :)
    http://umbrindeafrustracaodacondicaohumana.blogspot.pt/

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  5. Bom, já não será novidade que me regulo por princípios diametralmente opostos. Deixo-me conduzir pelos acasos da vida embora tenha consciência que na grande maioria das vezes é uma opção repleta de riscos. Mas o que será uma vida em que tudo é militricamente calculado?

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    1. Uma vida saudavelzinha :P Além disso, às vezes também me deixo levar os acasos. Não deixo é de considerar os riscos...

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