quinta-feira, 2 de maio de 2013

É cancro, sim, mas abaixo os coitadinhanços


É parte de uma resposta a um e-mail privado, mas como tantos de vocês foram muito carinhosos nos vossos comentários com a notícia, achei que o que disse naquele e-mail merecia ser dito a todos como um obrigada sincero!

Estas notícias para mim já não são "novidade". Também já passei por outra experiência indirecta com o cancro - a minha mãe. Felizmente ela ultrapassou e todos ultrapassámos de forma incrível e acho que tudo se deveu ao próprio facto de nunca a olharmos enquanto alguém doente e decadente, como tantas vezes os "Ahhhh, não sabia, coitaaaaada" traziam implícito. Era o pior para mim. Sentir que os outros viam na minha mãe alguém a morrer. Por isso insisti para que ela usasse uma cabeleira - para que ela não se visse como doente, e sofresse o menos possível com os coitadinhanços dos outros. Escusado será dizer que eu nunca a quis ver sem cabeleira. Porque para mim ela nunca foi doente, ela era a minha mãe que tinha uma doença. E tive medo de arriscar e poder mudar de perspetiva. Se calhar fui fracota e acabei por dizer também indiretamente que ela estava doente quando não a quis ver sem cabeleira, mas foi a minha forma de lidar com o assunto. Foi a minha forma de garantir que esta minha perspetiva da pessoa primeiro e depois a doença se mantinha. Não fui diferente com ela em nenhum momento porque, sei lá, acho que até amor a mais às vezes é enterrar a pessoa "Ai, gosto tanto de ti e vou ficar em todos, todos os momentos contigo porque estás mal!". Claro que houve momentos de dar mais amor. Dar mais amor em gestos simples, como quando ri à gargalhada enquanto ela experimentava cabeleiras e comecei a ver que os olhos estavam prestes a humedecer-se e tinha que arranjar uma forma de dar a volta. Chorar com ela? Não. Ela acabou a rir comigo.

A verdade também é que por muito que já tenha passado é diferente de cada vez que sei. Fico revoltada com as pessoas que já choram e fica a parecer-me a mim que enterram o meu avô vivo - mas cada um tem a sua forma de reagir, não é verdade? São só emoções que eu sinto como agressões, mas para as pessoas é só uma forma de pôr cá para fora. E eu tenho que aprender isso também. Que não posso impôr aos outros a minha forma de reagir quando eu própria sei que não é necessariamente a melhor.

10 comentários:

  1. Ia escrever o mesmo que a Hermione. Ela chegou primeiro mas a ideia mantém-se! És mesmo uma grande mulher.

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  2. Cada pessoa reage de uma maneira, mas o melhor mesmo é ter esperança e dar muita força.. As melhoras para o teu avô..

    kisses***

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  3. Cada um reage da sua maneira. Eu pessoalmente "não gosto" de coitadinhos, "gosto" de lutadores, quem encara o touro de frente e luta.
    Parabéns não só por seres assim, mas pela tua família ser assim também.

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  4. É assim mesmo. Parabéns pela atitude. Eu também sou assim. Por muito grave que seja o problema há que lutar e manter ao máximo a mente positiva. Embora não seja sempre fácil.
    Beijinhos grandes.

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  5. A tua atitude é meio caminho para uma história feliz.beijos!

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  6. Acho que tens uma força muito grande dentro de ti =) Continua a ser assim!

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