sábado, 5 de outubro de 2013

Afinal não é um deus...

O momento em que percebemos que o nosso deus Grego vai deixar até essa platónica e longínqua condição é aquele em que subitamente parece que o mundo pára, que a magia sobre a qual ele parecia viver em suspenso desaba, e ele vira de uma entidade extra-terrena, carregada de peso e densidade, uma realidade distante e romanticamente imperturbável. Em termos mais simples é o momento em que cai a ficha e se percebe - ele já está noutro filme - sem que exista um qualquer discurso direto ou diálogo para sondar esse facto. 

Estranho é perceber quão súbito, seco e cortante pode ser este momento. Não é sucedido por um crescendo de tensão a subir pela garganta fora; não é acompanhado de olhos subitamente humedecidos e brilhantes... Cai seco quando tudo antes era revestido de um manto de invisibilidade profundo e pesado... E cai num momento pleno de densidade como aquele em que ele narra com o corpo ,embalando a figura esbelta que o compõe e os gestos que fazem dele a criatura mais etérea que já se viu - e que me recordavam vividamente porque é que o endeusei -, um dos momentos mais marcantes da sua vida. Se estava de boca aberta devo tê-la fechado quando ouvi, com uma imensa candura na voz e um olhar de anjo caído, "(...) na primeira vez que dava banho à minha filha"- zás-trás, continuando sentada, desci num segundo à cave de um apartamento de 10 andares estando eu no 10º. Instituiu-se em mim o bloqueio imediato que inibe qualquer entusiasmo sentimental e a formulação de planos romantico-delirantes nas horas vagas quando sei uma pessoa numa relação. Caiu. E caiu seco, porque seca e vazia era a história que havia. Mas era giro este andar sobre as nuvens... Já ele passou  a ser alguém humano e entregue pelo que imune aos meus olhares caçadores de contos inenarráveis. Em compensação, se a aura o largou ganhou em densidade psicológica e em interesse pessoal, tornando-se alguém de quem eu não apenas recebo instruções mas com quem troco algumas ideias e perspetivas.

7 comentários:

  1. Engraçado, consigo compreender exactamente o que queres dizer :) acho que a maioria das mulheres já teve um momento assim.

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  2. Até os Deuses Gregos têm direito a ser felizes. Bola prá frente que atrás vem gente! E o teu Porto já tá a jogar... E a ganhar para mal dos meus pecados!

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  3. Respostas
    1. Ahahah, por acaso nesse aspeto sou pequena, sou por influência paterna. Ele sim, foi grande, pois numa família de portistas assumiu identidade própria :P

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    2. Se eu nãi fosse benfiquista era desterrado... :p

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