segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Filha de peixe sabe nadar

Uma viagem de autocarro tem sempre momentos insólitos, como aquele em que a porta da bagageira do autocarro fecha involuntariamente e faz com que um senhor, já com uma idade bastante razoável, se enfie bagageiro adentro. Entretanto a mulher, no seu rabo de cavalo branco, e olhar agudo grita "Mas está maluco ou quê?"

O casal segue viagem à minha frente. 

Sem me aperceber separaram-se. Quando reparei já estava ela toda estirada, sentada nos dois bancos, de pezinhos descalços a apontar para o corredor central. Com um ar embriegadó-sonolento fitava um senhor que falou durante a viagem toda, sempre em tom de engate, com diversas personalidades femininas através de um telemóvel NOKIA topo de gama há 10 anos. Falava com o telemóvel no colo ou colado à boca. Por momentos pensei que estivesse só a delirar.

Caio no sono.

De repente uma voz rouca "Ó senhora, pode-me ver isto? Quero ligar e não dá...". Salto ligeiramente quando vejo apenas um braço esticado com um telemóvel na mão a insurgir-se no meu espaço. Era a velhotinha, como carinhosamente já a tinha apelidado. Boa visão periférica.

Novas tecnologias. Um touch para uma senhora que se dizia avessa a elas. A filha vinha buscá-la mas não conseguia falar-lhe. Nem eu consegui tratar por tu um dispositivo diferente do meu.

Do meu telemóvel conseguimos ligar para a filha.

Abraço o meu pai à chegada. Conto o episódio. Asseguro que a senhora me disse que a filha alegou estar à espera deles desde as 23.30 (desde há uma hora atrás), mas que não conseguia também ligar-lhe. O meu pai garante que não viu lá ninguém para além dele. Mas onde é que levava os velhotinhos se fosse necessário? Tinha os lugares traseiros ocupados... Havíamos de ajudar de alguma forma, respondi. Uns segundos em silêncio. Vamos lá ver? Deu meia volta ao carro e fomos. E mais uma vez, eu tive a certeza que sou bem filha do meu pai.

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