terça-feira, 10 de agosto de 2010

Rituais familiares - afinal as àrvores não crescem assim tanto.

Uma coisa que recordo sempre que venho de férias são os rituais familiares que precediam a ida para o Algarve e que acompanhavam o regresso a casa. Repetiam-se todos os anos, mas eram todos os anos espectaculares. Tão espectaculares que agora, aos 22 anos, lembro-me sempre deles, transporto-os no meu imaginário e, secretamente, lamento que não continuem a existir. Não o lamento de forma triste, mas sim nostálgica, pois se as coisas se repetissem agora seriam apenas ridículas :)

A mensagem contida na imagem é ligeiramente pessimista. Quero clarificar que eu acredito muito na beleza da vida, mas acredito também que há coisas que experimentamos na infância que são irrepetíveis.

O dia em que ia para o Algarve era o dia do ano em que despertávamos mais cedo lá em casa. Isto no tempo em que para chegar aqui eram precisas umas 8 horas. Apesar de acontecer cedo, este era o despertar mais fantástico e desejado do ano. A minha mãe que nos acorda durante todos os outros dias do ano, passava esta função ao meu pai que entrava no quarto a cantar repetidamente "Vamos para o Algarve! Vamos para o Algarve! Vamos para o Algarve". Um refrão banal a anunciar dias espectaculares. Assim que ele saía do quarto eu e a minha irmã saltávamos das nossas camas a cantarolar o mesmo refrão.

Quando entrávamos no carro o meu pai incentiváva-nos a dormir, mas nós, entusiasmadas, resistíamos. Então, o meu pai convencia-nos que se adormecêssemos o carro ficava mais leve e assim chegávamos mais rápido ao Algarve. E eu acreditava, e adormecia embalada pela ideia de ver os bancos do carro a ganhar vida e voar enquanto eu adormecia. Quando acordasse já estaria no Algarve.

No regresso a casa, eu chorava, esperneava e condecorava o meu pai à categoria de monstro por nos estar a tirar dias tão bons, mas ele conseguia, igualmente, transformar a chegada a casa em algo fantástico - mesmo que de forma igual ou semelhante todos os anos - íamos pelas ruas da nossa pequena cidade a inventariar tudo o que de novo tinha aparecido e apareciam tantas novidades que, de facto, parecia que estávamos a entrar num mundo novo! Ainda consigo ouvir "Olhem para as árvores! Estão enormes!". E depois o meu pai continuava pelo caminho a recordar a nossa casa, os nossos brinquedos, o nosso cão. Quando chegávamos a casa e revíamos tudo era realmente espectacular. Hoje sei que as árvores não cresciam assim tanto durante os 15 dias que as férias duravam, que não havia assim tanta coisa nova na cidade e que não acontecia nada do que me parecia espectacular, mas sei, principalmente, que tenho um pai fantástico e que acreditava nestas coisas todas, porque era ele que mas contava. E não há Algarve, por mais que os anos passem, que não seja pintado por estas recordações.

15 comentários:

  1. Tenho saudades das minhas férias de Verão, daquelas em que era miúda e fazia novos amigos no local onde estivesse. Do cheiro do sal na pele, das brincadeiras...

    Ok, acorda, isso já foi :P

    ResponderEliminar
  2. Também tenho imensas recordações de infãncia em que me lembro especialmente da alegria que senti, mas se as vivenciasse neste momento não produziam o mesmo sentimento, apesar de ser exactamente a mesma situação.
    Ah nostálgia, é verdade:)

    ResponderEliminar
  3. Os meus pais deixaram-me o bichinho de percorrer Portugal de carro e quase tudo o que conheço deste lindo país, foi graças a eles :)

    ResponderEliminar
  4. Este tipo de recordações são as melhores :) E deixam tantas saudades..
    *

    ResponderEliminar
  5. Ohhh, as férias da infância eram sempre memoráveis :) ainda me lembro que o meu pai gostava de ir cedíssimo e saia sempre da cama sem sono, eheh * beijinho

    ResponderEliminar
  6. Ler este post relembrou-me as minhas viagens! Desde os 4 ou 5 anos, sempre com um livro ou dois na mão, para ir lendo durante a viagem para passar o tempo!

    E com o meu pai a perguntar o nome das bandas que iam tocando!

    E contando os carros que apareciam das marcas que nós escolhíamos, ainda à porta de casa...

    Bons tempos!!!

    Kiss kiss

    ResponderEliminar
  7. Também tenho recordações parecidas com as tuas. Acordava muito feliz no dia da partida para o Algarve, mesmo sendo 4h da manhã. A grande diferença é que eu adorava voltar para casa. Ficava ainda mais excitada para regressar do que para ir de férias. E agora, em adulta, quando viajo, normalmente para mais longe, continuo a sentir uma imensa felicidade por regressar a casa. Adoro a minha casa, a minha família e a minha cidade!

    ResponderEliminar
  8. Bem, como eu tenho um pouco de Peter Pan dentro de mim, as minhas férias são sempre meio parvinhas, com coisinhas assim. Claro que ao longo dos anos foram aliviando, mas continuam a ter um toque de "magia-criançola".
    Senti-me muito nostálgica a ler isto. Fiquei alegre. =)

    ResponderEliminar
  9. Eu quando vou de viagem, também meto na minha cabeça que se adormecer, chego mais rápido :D

    ResponderEliminar
  10. sim, acho que tens uma certa razão. mas não é fácil de fazer, talvez seja fácil de ter a ideia. mas a partir daí torna-se complicado

    ResponderEliminar
  11. Fizeste-me lembrar o meu entusiasmo na noite antes de ir de ferias, quase que nem dormia. Não ia para o algarve mas para onde venho todos os anos, é a mesma sensação. E a despedida... oh odeio o ultimo dia!

    ResponderEliminar
  12. Esse tipo de recordações são as melhores que se podem ter.

    Eu lembro-me de acordar uma vez cedo porque ia para Espanha, tinha 9 anos. Eram 6 da manhã e eu estava tão feliz. E quando cheguei à rua, só me lembro de ter reparado na quantidade de andorinhas que se viam ali aquela hora. Eram mais que nas outras horas, pelo menos eu achei que sim.

    ResponderEliminar
  13. Marta, eu tenho muitas saudades de tudo o que já passou. Muitas vezes experimento a felicidade ao retardador enquanto eu penso: como eu era feliz naquela época!

    Bernardo, anda tu cá ter comodista =P

    Palavras Estúpidas, é exactamente como tu disseste :)

    Caia, os meus pais preferem o aconchego da casa e com eles nunca aprendi a meter-me em grandes aventuras!

    nuvem.de.algodão.doce, ai eu tenho montes de recordações fantásticas!

    Shell, eu sabia que esta não havia de ser uma experiência só minha, por isso é que decidi partilhar!

    MRPereira, digamos que és um rapaz precoce. 4 ou 5 anos já com um livro na mão? Espero que fosse de imagens!

    Reese, eu também adorava a minha casa (actualmente não é a mesma dos meus tempos de infância), mas a casa das férias perto da praia, era sempre mais apelativa!

    MissBlueBuble, adoro o facto de teres ficado com esse sentimento. Beijinho *

    Andreiazita, a verdade é que chegamos! Pelo menos não temos consciência de metade da estrada...

    Diogo, sim. Muitas vezes temos boas ideias mas não sabemos aplicá-las!

    Nokas*, como eu te entendo. Ainda agora, odeio últimas dias de férias.

    Menina do Chuveiro, as andorinhas são tuas, assim como as árvores são minhas. Dentro de nós existem mesmo. Se existiram na verdade? Sinceramente não quero saber :)

    ResponderEliminar
  14. Adorei o texto! Essas memórias são lindas=)

    ResponderEliminar

Não resisto às novidades do Mundo Lá Fora. Contem-me tudo, tudinho!