quinta-feira, 14 de junho de 2012

Perdi uns sapatos e ganhei muitas pessoas

Terminou ontem o meu primeiro ano enquanto encenadora. Saldo da noite: perdi uns sapatos e ganhei muitas pessoas.

Ganhei a F. (genuínamente maldisposta e refilona sempre e que no dia anterior tinha saído chateada comigo do ensaio) a pronunciar, no fim do espectáculo, em tom solene, um obrigada daqueles que é certamente mais que um conjunto de letras organizado e com um significado convencional. Ontem ganhei-a a cair no meu abraço num pranto, enquanto pedia para eu não ir embora e falava de todas as vezes em que a critiquei e em que, por isso, a fiz crescer,"Eu reclamo mas é aqui que eu cresço!". E eu, que no discurso final tinha prometido que não ia chorar, mas em contrapartida senti as pernas a tremer, chorei lá atrás no escuro, com a F. abraçada a mim. E depois veio a R. agradecer no mesmo abraço a confiança e dizer que chorou por minha causa; a outra F. que me puxou pelo braço; o aluno alemão mais português que conheci, o pequeno T., que acordei no fim da peça para ir receber aplausos ao palco pois já dormia recostado numa cadeira. O pequeno T. que chorava copiosamente pelo aluno alemão que nunca mais ia ver. O pequeno T. que, vendo em mim outro potencial elemento fugidio, de chapéu da Alemanha na cabeça, vem perguntar com o melhor olhar gato-das-botas-do-Shrek se eu estava em Setembro.

Além das pessoas, ganhei a certeza de que há momentos em que erro, como quando rosnei  desnecessariamente à C. por estar a mexer no telemóvel momentos antes de entrar em palco e deixei a rapariga insegura e ela até sabia perfeitamente em que momento a peça estava e quando devia entrar. Bastava um leve aviso.
O que perdi? Uns sapatos. A J. pediu para não me esquecer dos então meus sapatos. Dos sapatos que ela tinha usado em palco na estreia e mostrava a toda a gente, gabando que eram lindos. "Ouvi dizer que já deste um presente a alguém. Tu és maluca!". Eu cá acho que devia ser um bocadinho mais. Todos os dias.
Não vou repetir o que disse no meu discurso no fim da peça. Poderia dar o melhor dos posts, mas fica para eles, só. Aqui fica o que não lhes disse:  queria muito chamar-vos meus pequeninos, queria muito ficar convosco para sempre e dizer que não vou embora nunca, mas não o disse, porque não sei quando vou e não posso prometer, ainda que não utilize a palavra "prometo", coisas que não sei se posso cumprir e, mais do que tudo, como diz a música "Quando alguém nasce, nasce selvagem. Não é de ninguém".. Nenhum de vocês é meu, mas cada um de vocês é-me muito.

2 comentários:

  1. E é por causa destes textos, destes sentimentos e de tudo o que és capaz de transmitir que não me arrependo nada de ter seleccionado o teu blogue para Blogue do Mês. Não deixes de escrever, fazes falta por aqui (:

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  2. então tu estás de parabéns! por todas as tuas conquistas! :)

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