segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A minha primeira paixoneta

Sou de paixões longas. E prova disso é logo a minha primeira paixoneta. Ele era muito moreno e giro. Giro mesmo giro ao ponto de um conjunto de meninas assanhadas certo dia o terem prendido sem saída no cubículo de uma das casas de banho para lhe dar beijos onde fosse possível. Já ele resistia estoicamente e enrolava os lábios para dentro para que não fosse atingido no mais desejado alvo. Além de giro ele era bom aluno, mesmo bom aluno. Gostava mais de Matemática (era bom nos Problemas!) do que de Português (não era tão virado para a escrita e composições como eu!), mas tinha, dizia a professora, das letras mais bonitas da turma. Na maioria dos intervalos jogava futebol. Era guarda-redes. Não me lembro se alguma vez confessei sequer esta paixão. Ele o máximo que disse - não a mim mas em resposta a um grupo de meninas ao qual eu pertencia - foi que não gostava de nenhuma rapariga e quando o inquiriram acerca de mim (oi?!), alegando que ele era diferente comigo, ele respondeu que eu também era a única diferente. De diferente bom, senti eu na altura. Hoje espero que não fosse um diferente insultuoso. 


O auge desta paixão acontecia quando brincávamos aos Power Rangers e eu era a "amarela" e ele o "verde" ou o "azul", não me recordo, mas basicamente o que na altura era atribuído como o namorado da "amarela" - que isto de acasalar pessoas está presente desde o início dos tempos. Os dois sabíamos que éramos namorados durante a brincadeira. Assim no intervalo das batalhas contra a Rita mázona (que era devidamente representada pela rapariga mais alta da turma que todos adoravam mas que gostava de fazer de má da fita) ou no suposto fim do dia, lá nos encaminhávamos os dois para o sítio onde seria a nossa casa (não me lembro quem a definiu), mas no momento em que os nossos olhares se começavam a cruzar de um para um alguém gritava "Já é de manhã! Perigo!!! Venham todos Power Rangers!", quebrando tudo o que poderia estar a brotar.  

Lá mais para o 4º ano comecei a perceber que os nossos destinos jamais se cruzariam. Ele passava a vida a contar detalhes da casa nova e a rir que tinham escolhido para a casa de banho um azulejo "azul cueca" e a perspectiva de seguir para uma escola diferente do resto do grupo efectivou-se. Mas não matou a minha paixão. Até ao 6º ano vivia na expectativa do dia em que ele ia aparecer. E os 3/4 dias por ano em que ele aparecia eram os melhores de todos. Até que comecei a pensar que ninguém sobrevive com 3/4 dias por ano e, a custo, larguei esta paixão.

Hoje pouco sei sobre ele. Só que é todo zen, paz & amor e que, recentemente, ficou com a cara inchada porque toma coisas manhosas para se "purificar" espiritualmente. 

Nestes momentos percebo que, apesar de agora as coisas serem diferentes, não sinto que alguma vez tenha tido paixões erradas. Nunca tive aquele sentimento de "Ai, meu Deus, como é que eu pude gostar daquilo?", mas paixões devidamente situadas. No tempo e momento em que apareceram fizeram todo o sentido, mesmo que depois tenha vindo uma bem maior e melhor.

13 comentários:

  1. Daí, a primeira coisa que tirei foi: possas que as miúdas da tua turma eram assanhadas :P
    E olha...a minha primeira paixão também era gira gira :)

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  2. Palavra Já Perdida,
    ficaram completamente fora delas ;) O rapaz resistia tanto que acharam que um ataque conjunto valeria a pena!

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  3. Que história bonita*
    "paixões devidamente situadas" gostei do termo. A maioria das minhas foi devidamente situada, mas tive um quase- relacionamento que me deixou a pensar "mas onde é que eu tinha a cabeça?"

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  4. Eu, a minha primeira paixoneta, foi por um camião de bombeiros da. Corgy Toys, todo cheio de belos pormenores.

    ( olha! É um bom tema para um post)

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  5. Sabor Adocicado*,
    sou daquelas que acredita que todas as histórias podem ser bonitas desde que olhadas com a sensibilidade certa e contadas pela caneta adequada :D
    Se foi um quase-relacionamento, continua a estar tudo certinho!

    Vic,
    :) E tantas vezes que eu própria me inspiro para posts através dos comentários que faço ao que outras pessoas escrevem! Ainda bem que acabei por te trazer memórias também.

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  6. "que isto de acasalar pessoas está presente desde o início dos tempos" ahahah. Também sou de paixões longas, sendo que a minha primeira durou cerca de 4/5 anos. E não me arrependo de nenhuma, cada uma delas teve toda a sua razão de ser.
    Estas primeiras paixões serão sempre memórias deliciosas :)

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  7. Hoje apeteceu-me escrever sobre o teu blogue. Está muito simples porque não sou como tu e não tenho este talento maravilhoso com as palavras mas espero que gostes :)

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  8. Gostei de saber a história, a minha primeira paixão foi bastante diferente da tua. Apaixonei-me por ele no 3º ano, a maioria das raparigas gostava de outro que não lhe dava muito a bola. Ele supostamente não era o mais bonito, era apenas o mais belo aos meus olhos. No 6º alguém lhe disse que gostava dele e ele fez questão de vir falar comigo a dizer que nunca ficaríamos juntos, que era feia e gorda... Modéstia à parte, hoje acho-me linda e acho que ele coitado, ficou muito mal arranjado... infelizmente para a mãe dele, ele meteu-se na droga e têm um rosto magro e muito chupado.

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  9. Lauz,
    :) Cada um tem a sua forma de resolver as suas paixões, mas eu gosto da nossa paixões resolvidas com serenidade. O que não me impede, pelo menos a mim, de uma vez por outra fazer piadinhas!

    Carolina,
    mesmo antes de ver só me ocorre um "Ooooh" e agora vou a correr ver!

    D. Pereira,
    a tua é bem mais elaborada. A minha perto dessa é basicazinha. E a tua tem final ainda mais dramático! Tens que lhe cantar "Baba, olha o qui pérrrdeu!"

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  10. Ohh, adoro! É tão bom recordar! (:

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  11. miii,
    sim quando são assim pintadas de cor-de-rosa as recordações é bom!

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  12. Opah, que texto amoroso. E estas paixonetas de criança ou de adolescente são tão boas de recordar. Despoletam sempre um sorriso nos lábios. Concordo contigo, quando dizes que não há paixões erradas. As paixões fazem sentido na altura em que acontecem. E ainda bem que existiram. Assim sempre temos algo bom para recordar ;)

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  13. Miss S.,
    claro. Se me perguntassem "Então e agora, faria sentido?" eu diria logo que não. Mas na altura em que foram vividas fizeram sentido.

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