domingo, 16 de setembro de 2012

Ocupa-me

Há fases em que não queremos ter um relacionamento. Queremos, ainda que sem o saber imediatamente, alguém que nos ocupe. Alguém que faça aquelas coisas que davam muito jeito. Alguém que vá ao cinema connosco. Alguém a quem contar todos os segredos. Alguém a quem voltar a qualquer momento. Alguém que nos pode ajudar a inserir questionários no SPSS. Alguém por quem apetece aprender a fazer coisas novas, como uma sobremesa. Alguém que vá almoçar connosco quando não temos mais ninguém com quem ir. Alguém que vá para os gabinetes de prova carregado com as roupas que queremos experimentar e que traga secretamente uma outra peça, só porque apetece ver-nos com ela. Alguém em cujo colo podemos deitar sempre que nos apeteça. Alguém que tenha uma espécie de sociedade secreta connosco conjecturada num "nós" que é uma entidade super-poderosa e super-potente e que está para qualquer circunstância. Alguém que nos dê mimo, porque afinal não dá só jeito, também dá vida. Alguém que nos dê beijos e que nos liberte todas as necessidades libidinosas. Alguém que nos tire de casa quando é o último sítio onde  queríamos estar. Alguém que diga que nunca nos vai deixar nem que morra tudo e caia tudo e que, portanto, nos faça acreditar mesmo nisso. Sobretudo alguém que, por favor, nos faça acreditar que sim é possível voltar a ter alguém. Alguém. Que alguém nos ocupe, é urgente! Não queremos amar, nem que nos amem. Mas pensamos que sim e que não tarda nada estão os passarinhos todos a cantar.

Um apontamento: sim, é possível quase tudo isto existir quando não queremos apenas que nos ocupem. A diferença quando queremos que nos ocupem é que um dia percebemos que embora existam coisas que se podem fazer sempre com a mesma receita e que não assumem grandes variações (e portanto tentamos repeti-la incessantemente porque tem que funcionar!), conforme as mãos pelas quais é talhada a coisa sai de forma diferente! Aí percebemos também que é simplesmente impossível fazer com que as coisas aconteçam só porque se quer. Só porque até existiam ali umas mãos com muito boa intenção. Se eu queria ter um namorado mal me vi desnamorada? Quis muito. Se eu podia ter um namorado? Não. Não podia porque não havia espaço. Eu achava que não tinha problemas de espaço, tinha problemas de tempo, e já tive muita pressa porque só vivemos uma vez. 

Agora?


Aquele amigo - que me conhece desde os 15 anos e que me trata sempre por "pequena" ou "princesa", a seguir ri envergonhado, pede desculpa e diz não conseguir evitar - fez, esta semana, um breve debriefing acerca do meu estado civil:

Mas quê, tens falado com rapazes, deixado que eles se aproximem?

Eu respondi:

M., não é que eu não tenha muita vontade, mas mais do que isso eu sei o que quero. Não tenho pressa...

Ele parou a ollhar para mim durante uns tempos, sorriu, de um sorriso nem mole, nem jogador, o sorriso firme de quem sabe bem quem viu e de certa forma se apazigua por continuar a ver a mesma pessoa. A seguir dirigiu o olhar para o resto da mesa.

14 comentários:

  1. Tu queres um gay que te ocupe? Nunca levei roupa extra ao provador...

    A minha onda é mais o oposto, mini patuda.


    PS: esse titulo...

    ResponderEliminar
  2. "Aí percebemos também que é simplesmente impossível fazer com que as coisas aconteçam só porque se quer. Só porque até existiam ali umas mãos com muito boa intenção."

    E com isto disseste tudo.
    Gostei muito do texto :)

    ResponderEliminar
  3. Ahahah. Agora não quero ser ocupada.

    A onda é tirar roupa do provador?

    O título é marketing. Vais ver que traz cá mais gente. Gente que quando abrir o blog vai ficar satisfeita só com o título dada a quantidade de letras que se seguem.

    ResponderEliminar
  4. V*.,
    :))) obrigada por teres lido, gostado e até citado!

    ResponderEliminar
  5. o tempo acabará por curar tudo e te moldar de forma a que encontres e aceites alguém que te ocupe o coração.

    ResponderEliminar
  6. essas coisas que dão jeito, são coisas da ocasião que acontecem de vez enquanto. podes ser alguém ocupada e ter uma pessoa na tua vida, há é que estabelecer prioridades...

    ResponderEliminar
  7. D. Pereira,
    nada disse em contrário em relação a isso :P

    ResponderEliminar
  8. Eu acho que parei na parte do SPSS - é de longe a tarefa que mais deve ser partilhada, de preferência tão bem que não sobre nada para nós :P

    ResponderEliminar
  9. J. Persoa,
    compreendo essa paragem! E até a tua proposta :P

    ResponderEliminar
  10. Adorei este texto.
    "Há fases em que não queremos ter um relacionamento. Queremos, ainda que sem o saber imediatamente, alguém que nos ocupe." Nunca tinha pensado nisto desta forma, mas faz todo o sentido. Faz muitíssimo sentido ;)
    Continua!

    ResponderEliminar
  11. Miss S.,
    e eu espero que tu continues também a dar-me esse estímulo todo para continuar!

    ResponderEliminar
  12. Pelo que li, acho que terás estímulo da minha parte ;)

    ResponderEliminar
  13. As pressas podem conduzir-nos ao engano. Eu defendo que um dia acontece... e aí apercebeste que afinal até há espaço e tempo.

    ResponderEliminar
  14. joana,
    De acordo. Já deixei de querer porque sim, vou querer quando valer a pena!

    ResponderEliminar

Não resisto às novidades do Mundo Lá Fora. Contem-me tudo, tudinho!