domingo, 19 de maio de 2013

Os homens, não da minha vida, mas na minha vida III

O D. ainda nem sequer é um amigo, mas vai ser. Anda sempre com um ar profundamente perdido, desenquadrado e desengonçado, "Não conheço ninguém interessante da minha idade", mas conhece sempre alguém em todo o lado. E lê bons livros. Anda frequentemente a passear de livro na mão, o que é raro hoje. E ainda nem sequer é um amigo porque até aqui para vir falar comigo precisava de se fazer acompanhar de um copo de vinho tinto, ou branco, ou vodka ou seja o que for em plena via pública, ou já devidamente acomodado no estômago. Até que este fim-de-semana, enquanto ele segurava o tradicional copo, observei este facto e ele fez questão de vir falar comigo sóbrio (digo eu que não sei o que bebeu ao jantar em casa) para eu constatar como ele é uma pessoa igualmente capaz sem o alibi do copo. Não precisava. Como lhe disse, apesar de ter observado isto e que, em condições regulares, estava prestes a dar-lhe um ataque de ansiedade em que parecia que mal engolia o ar, na urgência de discorrer ali sobre um conjunto de questões, eu já sabia que ele é uma pessoa interessante capaz de manter diálogos interessantes. Aliás, com poucas pessoas paro à noite, em bancos de jardins públicos da cidade, com um frio que não é próprio de Maio, simplesmente para conversar. Para conversar daquelas conversas densas que não passam por assuntos como a vida das outras pessoas, mas por teorias acerca da vida e das relações entre as pessoas. Eu não tenho muito jeito para coscuvilheira. Nem ele, eventualmente.

Com ele, o meu principal desporto é, nas palavras dele "cascar-lhe" a ele e elogiar-me a mim. Diz que não conhece ninguém que goste tanto de si como eu. Mas este autoelogio é tão provocador, e tão exagerado para o momento, que rio em plena gargalhada do que eu própria digo. Ele acha ainda assim que eu estou a dizer coisas em que acredito piamente. Lá justifico que não casco, mas que faço estimulação intelectual para manter a conversação. Conversas mornas morrem mal começam. E a verdade é que graças a esta profundidade em que nos embrenhamos já dei por mim a contar-lhe coisas que mais ninguém sabe e até à data é um bom guardador de segredos. E o D. é um tipo sincero, gosto disso. É capaz de vir arrasar-me por momentos em que toda a gente me considerou uma estrela e dizer que fui tremendamente fraquinha, tal como no segundo a seguir está a dizer que tenho umas belas pernas e que "Apesar de todo o mainstream que há em ti, és uma mulher interessante".

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