Há dias lia "saber que se caiu no esquecimento de alguém deve ser das coisas mais tristes que podemos experimentar e sentir. A irrelevância perante a memória do outro, a noção de que não marcámos, que nada mudámos. É como se não tivéssemos existido.". Talvez isto me seja especialmente caro porque sou uma pessoa achacada a memórias. E nessas tu tens um lugar incontestável, como tão bem diz a canção "'till I find somebody new.". E encontrar não é encontrar de dar de caras, é eventualmente encontrar de me perder no outro. Por um lado assusta-me que ninguém novo tenha substituído as memórias que tenho de ti, as memórias que tenho de nós (e é de substituir que se trata?!). Às vezes digo injustamente que é porque ninguém lhes chegou aos calcanhares. Mas a verdade é que mais do que uma pessoa chegou. Mais do que uma pessoa caminhou para construir memórias tão épicas como aquelas que tive contigo. Mais do que uma pessoa mostrou a esta sortuda que os filmes e os livros não são exagerados e o amor acontece mesmo na vida real com todo o colorido que lhe vemos nos filmes. E eu achei que também estava a sentir esse "amor", envolvi-me nesse "amor" até ter uma necessidade súbita de pôr uma rolha nesse amor que já me parecia amor a mais. Mas talvez não estivesse preparada para matar as tuas memórias. Para aceitar que um outro alguém pudesse ficar tão guardado como tu ficaste. Como podia ousar deixar alguém chegar onde tu chegaste?
Deve estar no meu ADN. Fui apaixonada pelo meu namorado platónico da escola primária durante 7 anos. E ainda há uns tempos, quando o revi, juro que senti um ligeiro fogo de artificio quando ele encostou a cabeça à minha e um orgulho gigante quando na despedida ele reforça "Foi mesmo muito prazer". Tinha tudo para ter dado certo, mas agora não me identifico com a via e vida esotérica que ele seguiu. E a verdade é que o lado que não me assusta tem precisamente a ver com isto, sei que sou apaixonada por memórias e não pela pessoa que agora és, que nem sei quem é... Parece complicado, mas não é. Não estou apaixonada por ti, não te quero à minha porta, mas pesam-me as tuas memórias. Parece complicado, e se calhar até é. Se calhar não podes existir para sempre onde estás agora. Se calhar preciso de entrar numa cápsula que sugue o peso que estas memórias têm em mim, so I can move on... Para que eu possa seguir sem medo que outras memórias façam esquecer as tuas. Para que eu possa seguir sem medo que eu tenha sido uma passagem longa, mas insignificante.
"sei que sou apaixonada por memórias e não pela pessoa que agora és, que nem sei quem é... Não estou apaixonada por ti, não te quero à minha porta, mas pesam-me as tuas memórias." Traduziste aquilo que há muito ando a tentar escrever e não consigo! É tal e qual isto! Acho que nem se trata de ninguém ainda ter chegado aos calcanhares... acho que é o facto de ainda não se estar preparada para "abandonar"/guardar numa gavitinha bem cuidada as memórias que tanto nos fizeram (in)felizes e deixar que outras, diferentes mas igualmente fortes, possam surgir. Obrigado por este texto!
ResponderEliminarObrigada genuínamente pelo teu comentário e partilha tão franca também :)
Eliminarsendo a Mary Jane, seguramente bem mais nova que eu, tenho a dizer que este testemunho calou fundo em mim, porque não sou muito dada a estas interiorizações, e este texto, vem mesmo a calhar em muito do que comigo já ficou para trás, mas que nunca tentei expor! obrigada!
ResponderEliminarAlgumas pessoas marcam-nos para sempre. Deixam cravadas na nossa alma a sua passagem.
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