Com 24 anos não me imaginava casada, mas imaginava-me de mão dada no fim de todos os dias. Imaginava-me de pés descalços estendidos no sofá e sobre alguém que não se importaria de os suportar. Imaginava-me de face caída num ombro forte que sentisse que jamais me ia deixar cair. Imaginava-me a saber de cor uma pele, um cheiro, uma voz, um abraço, um beijo. Imaginava-me a fixar olhares, minutos, momentos, histórias. Imaginava-me a doer de rir. Imaginava-me a deitar-me e bastar-me esticar um braço para sentir um corpo, o teu corpo, ao lado. Imaginava-me a prender uma respiração ofegante que dá mais sentido à minha. Imaginava-me a piscar o olho à sorte de te ter ao meu lado. E mesmo que só saiba piscar um dos olhos, sabe que esse é o teu. É o esquerdo. O do coração. Imaginava-me a prometer um "para sempre" que há algum tempo atrás risquei do dicionário. Não por não acreditar que pode existir um "para sempre", não por não querer efectivamente que seja, mas sim por ser, para mim, um desejo demasiado forte e sincero para se andar por aí a trair.
Tenho pressa. Tenho pressa de fazer, dizer e viver coisas pirosas. Pressa de como diz o Bryan Adams ver as minhas criancinhas por nascer nos teus olhos. Mas tenho tempo. Porque és só tu.
Espera. Digo a mim própria.
E espero porque tu vais valer a pena, porque tu vais ser o "para sempre" ou o "até que a morte nos separe" ou qualquer coisa menos dramática que só se diz uma vez na vida. A verdade é que para lá destas poesias, espero principalmente porque é mais fácil esperar do que enterrar sonhos. É mais fácil esperar do que dizer a mim própria: pára de sonhar, não vai dar. Diz que as coisas que valem a pena não são um pudim instantâneo. E hoje não vou porque um dia irei contigo.
Com 24 anos, pela primeira vez, não anunciei o dia do meu aniversário aos quatro ventos, não andei a espalhar sorrisos e tive um dos dias mais adolescentes de sempre: senti-me profundamente infeliz e sem motivos para tal. Fui birrenta e mimada. Porque estou à tua espera.
E quem fez de tudo para fazer deste dia um dia especial não merece que fique guardado de má forma. Fica, pois, a memória de, à meia-noite, ouvir guitarras à minha porta e um coro de 14 marmanjos (des)afinados entoar "Friends will be friends".