terça-feira, 29 de outubro de 2013

O meu inconsciente é um desobediente

Quando fico muito contente com alguma coisa (o que é diferente de ficar muito feliz, aí a reação não é a mesma) dou pequenas corridinhas - que podem inclusive ser sobre mim mesma - com o entusiasmo. Acontece sobretudo quando são coisas que me insuflam a auto-estima. Grave é tender a aperceber-me que estou nas corridinhas já a meio do processo. Aí apercebendo-me da figurinha que inconscientemente estava a fazer páro.

Perturbações do sistema



E quando começa a tocar uma música e tu ficas toda desperta e alerta e em confusão do sistema, como se um disco voador amarelo entrasse de repente numa sala de reuniões? "Hum? O quê? Quando? O que é que se passa?" Isto até identificares a fonte de conflito - esta música já foi o teu despertador.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Reflexões em dias de humor de cão

É ridículo pensar como bem vistas as coisas, e sobretudo analisadas numa perspetiva histórica, à luz dos tempos em que a possibilidade de sermos degolados mal saíssemos à rua, sermos engolidos pela fome ou epidemias piores era mais forte do que aquela de continuarmos vivos, andamos nesta vida até tão confortaveizinhos e andamos sempre à procura de lenha com que nos entreter.

domingo, 27 de outubro de 2013

Diz-se orgulhosamente portuguesa...

Diz que é uma marca orgulhosamente portuguesa e eu digo que tem uma das melhores coleções Outono/Inverno este ano.  Por isso merece divulgação a dobrar. Chama-se Ruga e eu encontrei-a numa loja local e desgracei-me. Duas peças (as duas de cima) que vão já embrulhar diretas para o Natal. A camisola é a branca com o coração vermelho e está longe de ter uma parte de trás tão comprida como aqui o cartaz faz crer. É linda que dói e se o ligeiro bling-bling que o coração emana ao início me fez duvidar um bocadinho, a verdade é que o bling-bling maior foi para os olhos :D A mana trouxe duas peças destas coleção também (as duas de baixo, camisola em preto e o casaco de cima) que não estivesse ela agora a morar na capital tenho a certeza que íamos trocar com frequência.



Saturday nights

"Hey!!! Quem acendeu as luzes? Apaguem que eu às escuras sou mais bonito"

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

"Amores" aleatórios

Ainda não encaixei o conceito de amigas (ou às vezes menos do que isso) tratarem-se por "amor" (e.g., "Obrigada, amooor.").

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Então os números da sorte são. . .

Perguntei há dias sobre os vossos números da sorte porque está é uma questão que me causa ali breves segundos de perturbação. Em momentos em que alguém, no cúmulo da excitação, lança "Diz o teu número da sorte!" eu interrompo este momento de escalada emocional para ficar em demorada reflexão Qual é o meu número?. Quer dizer, acho que nunca tive um número que dissesse descaradamente "Sou teu". Fui tendo números que pela história que se lhes associa se tornaram meus, como tantos de vocês falaram em datas de início de namoro e afins.

Os meus números - aqueles que digo e escolho mais vezes - não têm nada de original. São o 5 e o 7. Poderia dizer-se que o 7 o é porque é moda, mas não, corresponde ao meu mês de nascimento e depois claro, dizem que é giro e moda por ser um número carregado de simbologia. De outra forma acho o 7 bastante aborrecido, no grafismo e no som. Mas tendo a identificar-me com aquilo que sinto como muito meu e, ironicamente, sinto como muito meu aquilo que será das coisas que menos têm a ver com a minha ação direta, logo depois da minha concepção: a data do meu nascimento. Sim, porque o 5 também é um dos meus números porque é o dia do meu nascimento. E o 5, em última instância, sempre tem mais pinta que o 7. No som e na forma. Depois gosto do 20, porque... sei lá eu bem porquê! Talvez por representar o topo da escala parece-me um número mais cheio e completo do que todos os outros.

O meu namoro também tinha o seu númerozinho, o número de início. Sem querer, fui arrastando esse número para uma série de coisas importantes. Inclusivé, o código dos cartões. Cheguei a pensar em mudá-lo, porque achava que, inevitavelmente, de cada vez que estivesse a digitar o código uma enchurrada de memórias viria atrás do número. Mas depois pensei, a number is just a number... E a verdade é que com o tempo são mais as vezes em que só me lembro que este número teve uma história associada quando estou em deambulações mentais profundas, do que as vezes em que evoco a história quando o digito.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Olhó sapatinho bonito!

Tenho um problema com sapatos. 
Se a maioria das mulheres se queixa da falta de espaço para guardar sapatos...
Se tantas mulheres juram que uma das primeiras coisas para a qual olham noutra mulher são os sapatos...
Se a maioria das mulheres fica deslumbrada e quer abraçar vários pares...
Se a maioria das mulheres trata realmente bem os seus sapatos...
... este é um daqueles departamentos, onde não obstante o facto de eu me sentir na generalidade das situações menina-menina-menina, me sinto macho-macho-macho.

Ando há 2 meses para comprar um novo parzinho - porque sinto que até preciso ou qualquer dia rompo aqueles que com a mudança de tempo me passaram a acompanhar todos os dias - e rien, rien de niente de resultados. Nem um brilhozinho, nem um pequeno fascínio. Vá, não exageremos... Na realidade existiram duas candidatas. Uma era ali um mix entre o bota e o galocha - fiquei sempre sem perceber qual das duas era. E se estava prestes a ir na onda, um sentimento de "não tenho a certeza" que nunca posso ter na hora de comprar fez-me desistir rápido. As segundas pelas quais me apaixonei eram umas botas, lindinhas até, mas que tinham preço de botas que andam sozinhas, sem o fazerem. 

Na realidade acho que o problema é de não ter atinado com a nova tendência. Não há coisas elegantes. Só botifarras com ar de botifarras e de rock e de roupa rasgada. Porque atenção, eu tenho botifarras-racers, mas são giras.

Posto isto, decidi compilar um conjunto de escolhas mais ou menos aceitáveis - algumas ainda me fazem torcer-me toda, mas diz que é moda - para me ajudarem numa eventual decisão:




terça-feira, 22 de outubro de 2013

Tiques de mãe de família

Estou com tiques de mãe de família. Cozinhar para a minha família é das coisas que mais prazer me tem dado ultimamente - quem diria. É quase tão estranho como ter sentido saudades de conduzir. E quando digo cozinhar, é mesmo cozinhar. Não é escolher refeições pré-feitas para enfiar no forno ou no micro-ondas ou pôr uns bifinhos a grelhar. É fazer pratos que se desfazem em vários passos; é afinar temperos, é observar cores, texturas e sabores e no final combinar, aprimorar, dar pequenos toques em função do que esta mistura de sentidos sugere. Desarrumo tudo, sujo tudo e uso um excesso de louça, mas compensa...

O prazer final traduz-se em coisas ainda mais simples, mas que não podiam deixar de existir para que a experiência seja completa: servir cada um, fazer um prato bonito e ficar feliz, preenchida ao ver toda a gente comer e elogiar "Está uma maravilha". E por acaso está mesmo considerando que andei a fazer maroscas para substituir ingredientes em falta e achava aquela carne bem fraca. O que importa é que todos comam. E bem. Tsc, tsc... Tiques de mãe de família.

Mary Jane wonders

Alguém tem um número da sorte? Qual? Porquê?

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Filha de peixe sabe nadar

Uma viagem de autocarro tem sempre momentos insólitos, como aquele em que a porta da bagageira do autocarro fecha involuntariamente e faz com que um senhor, já com uma idade bastante razoável, se enfie bagageiro adentro. Entretanto a mulher, no seu rabo de cavalo branco, e olhar agudo grita "Mas está maluco ou quê?"

O casal segue viagem à minha frente. 

Sem me aperceber separaram-se. Quando reparei já estava ela toda estirada, sentada nos dois bancos, de pezinhos descalços a apontar para o corredor central. Com um ar embriegadó-sonolento fitava um senhor que falou durante a viagem toda, sempre em tom de engate, com diversas personalidades femininas através de um telemóvel NOKIA topo de gama há 10 anos. Falava com o telemóvel no colo ou colado à boca. Por momentos pensei que estivesse só a delirar.

Caio no sono.

De repente uma voz rouca "Ó senhora, pode-me ver isto? Quero ligar e não dá...". Salto ligeiramente quando vejo apenas um braço esticado com um telemóvel na mão a insurgir-se no meu espaço. Era a velhotinha, como carinhosamente já a tinha apelidado. Boa visão periférica.

Novas tecnologias. Um touch para uma senhora que se dizia avessa a elas. A filha vinha buscá-la mas não conseguia falar-lhe. Nem eu consegui tratar por tu um dispositivo diferente do meu.

Do meu telemóvel conseguimos ligar para a filha.

Abraço o meu pai à chegada. Conto o episódio. Asseguro que a senhora me disse que a filha alegou estar à espera deles desde as 23.30 (desde há uma hora atrás), mas que não conseguia também ligar-lhe. O meu pai garante que não viu lá ninguém para além dele. Mas onde é que levava os velhotinhos se fosse necessário? Tinha os lugares traseiros ocupados... Havíamos de ajudar de alguma forma, respondi. Uns segundos em silêncio. Vamos lá ver? Deu meia volta ao carro e fomos. E mais uma vez, eu tive a certeza que sou bem filha do meu pai.

sábado, 19 de outubro de 2013

O burburinho que cresce em mim

Estar sozinha numa casa grande foi coisa que me soube bem durante uma hora. Depois senti necessidade de barulho de vida e tive de abrir a janela. Ouvir os carros, o vento, pessoas... Os carros incomodaram-me. Gostava mais do som que adivinhava da janela com ela fechada. Fechei.

Amanhã é a estreia. A estreia de um projeto que andou a ser intensivamente preparado em 9 dias. Na tranquilidade aparente,  no sossego do silêncio que mente, em mim está um burburinho grande. Sou bicho de palco, mas este é diferente de qualquer outro. Não há protagonismos. Há um respirar conjunto, uma célula que não pode desagregar. E para isso há que contrair e descontrair...

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Mundo moderno - reuniões em pijama

De olhos encovados, pijama vestido e o cansaço de quem andou o dia inteiro a puxar pelo corpo hei-de apresentar-me hoje no skype para uma reunião importante. Estou a rezar para que a energia se apodere de mim. E já agora para que não exiba descontraídamente perante gente séria e profissional o traje que envergo. Dado que sou moça distraída e de me esquecer de detalhes estou mesmo a ver a camisa de noite do Mickey que já tenho vestida a ser estrela da situação. De qualquer forma, a verdade é que, pensando bem, o simples facto de poder comparecer nesta reunião de pijama torna a sua existência bem mais suave.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Dos segredos que não se querem confessar

Ontem deitei-me e dei por mim a pedir com muita força que não voltasse a sonhar contigo. Os sonhos são bons, mas a realidade não te quer.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Ideias loucas que me passam pela cabeça e que quedarão lá

Enquanto lia os vossos comentários, especialmente aqueles solidários com o estado desta nação, começou instantaneamente a reproduzir-se na minha mente uma batida super-hiper-mega-altamente dos White Stripes "I just don't know what to do with myself". Fui a correr botá-la em reprodução para que este momento de navegação mental tivesse seguimento e, enquanto mirava a bela da Kate Moss no seu rebolation, ocorreu-me que uma manif a sério não seria aquela que envolve confusão e gente aos gritos, era tipo uma flashmob, com coreografia a sugerir desorientação, em trajes pouco dignos, ao som desta música, mas extremamente cívica e organizada. Assim uma demonstração clara do desnorte que para aqui vai. Claro que esta ideia só ocorre na minha cabeça e eu não me apresentaria em público nestes trajes.


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Quero um emprego, como deve ser, aqui, já e agora ou a história que à distância parecia outra

Às vezes na vida o sucesso requer muito trabalho, sempre disse isto, e outras coisas giras como o provérbio ninguém colhe sem semear. Gostava de o apregoar sobretudo a quem não semeava tanto como eu. Mas a verdade é que às vezes o processo de semear é bem mais complexo do que pensamos. 

Diria que a escola nos prepara para um sucesso linear - basta seguir uma receita, que com mais ou menos desafio, maior ou menor dificuldade, é mais ou menos sempre igual - basta fazer o que percebemos que o professor quer (tantas vezes mais eficaz do que fazer o que um professor nos diz para fazer, é perceber a moda dele, o tipo de respostas que prefere, que conhecimentos valoriza e colar o melhor possível). Segui muito bem esta receita, ao ponto de me dar largas para neste processo de desejabilidade ainda me conseguir aventurar em divagações criativas. Entre este esforço, método matemático e divagações criativas que me conduziram tantas vezes à excelencia académica, às vezes - percebo agora e confesso - achei que já tinha feito tudo. Um tudo tão grande que achava que eu era muito fixe e que tinha direito de afirmar, de peito cheio, que os jovens de hoje - sendo eu nesta questão uma ave rara - estão acomodados, não têm emprego porque não têm golpe de aza, estão habituados ao confortozinho, não querem esforço, iniciativa, rasgo! 

Eu tive todo e tudo. Até a linearidade ser desmontada. E eu perceber, através da experiência, que sem linearidade é um valente desconfortozinho. E perceber também que ser do norte e arranjar emprego no sul seria linear, isso não é um daqueles pomposos sair da zona de conforto. Seria fácil. No meio do difícil de hoje isso seria só muito fácil. Sair da zona de conforto é não saber que raio fazer para chegar a algum lado.

Ninguém compra o meu curso superior, o currículo giro que tenho, ou os resultados académicos brilhantes que o acompanham. Ninguém precisa de mim. Pior, mesmo que precise, ninguém tem dinheiro para me contratar. Tenho a alma e os sonhos um bocadinho rasgados. A vida não é linear como eu a pensei - mesmo quando insistia que era um enigma indecifrável que eu decifrava! - e às vezes não tenho a certeza se tenho habilidade para as curvas... Curvas cujo método não consegui aprender em longos anos de formação. Curvas que ao longe pareciam mais um carreirinho que ia percorrer com uma perna às costas. Curvas que ao perto são um caminho sem fim.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Shame on my movie and bucket lists

A minha movie list é, neste momento, tão vergonhosa quanto a quantidade de filmes que tenho visto. Nem me lembrava que a tinha criado com um fim pretensamente útil se não tivesse ontem esbarrado com a sua existência. Estava num estado de existir ali como se não existisse. Adicionei os filmes que me consegui lembrar que vi entretanto.

Por outro lado ver a Bucket List fez assomar-se de mim uma auto-agressividade "Ó minha parva, então aqui o trabalho todo feito e tu não te agarras a isto como se de mandamentos vitais se tratassem?". Mas depois a doce parva que há em mim defendeu que até fui fazendo outras coisas da lista, como andar de cavalo (mas não conta, porque foram só 2 minutos) e que o primeiro grande concerto está aí à porta. Também, fundamentalmente descobri que fui fazendo outras coisas (como o campismo selvagem no Verão) que não se encontram em listas, mas que foram surpresas muito felizes. E de facto, a verdade é que talvez a felicidade melhor não se escreva, porque não se pode prever como se de uma receita se tratasse, ou de uma teoria magnificamente formulada com aplicabilidade prática. A felicidade melhor talvez não se planeie, mas como gosto de escrever sobre coisas felizes, é bom que se descreva a posteriori!

Coisas ridículas que me cruzam os pensamentos

É inevitável não ouvir esta música e não me imaginar - ali no plano dos pensamentos delirantes que embalam sonos e sonhos - a rodopiar lentamente num olhar bamby-sexy na direção do ente desejado. É inevitável não imaginar a expressão mais ingénua-lasciva ali nos primeiros momentos da música, de quem sabe, mas na altura nem pensa nisso, que uma língua de fora à Miley Syrus nunca conseguiria ser sedutora. Porque não é o que se é. E o que se é, é o nosso melhor. Inevitável não imaginar os ombros a irem para trás subtilmente e dengosamente acompanhando o movimento das ancas que empurram as pernas em frente. Inevitável não imaginar um pescoço sobre o qual derreter ao ritmo da música e um sorriso incontrolável de quem não ri, mas tem o riso guardado lá dentro, sempre, pela sorte da conquista que se teve.



Girl, wake up... Nem um at the beginning parece ser o tal, quanto mais um at last...

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A aldeia que existe em Lisboa

Sou uma miúda do campo. 
Uma miúda do campo muito mal caraterizada, cuja melhor imagem ficou eternizada na câmara de filmar que o meu bisavô não tinha, mas desejou ter, nos Verões em que ia para o campo dele fazer que lavrava.

Sou uma miúda do campo.
Uma miúda do campo que há-de sempre preferir a pitoresca Montmatre aos Champs Elysees.

Sou uma miúda do campo.
Uma miúda do campo que está em Lisboa de sobrolho franzido à velocidade com que as pessoas circulam.

Sou uma miúda do campo.
Uma miúda do campo que se delicia quando descobre que dentro de Lisboa ainda existem pequenas aldeias, eternizadas nos bairros mais típicos, onde as casas se estendem para a rua e as pessoas páram a conversar na mesma - em dias de sorte até a assar umas sardinhas em comunidade! - e onde há donos de cafés que se cumprimentam pelo nome próprio, da rua, por miúdos e graúdos, quando a caminho da escola ou do trabalho.

Sou uma miúda do campo.
Uma miúda do campo que parece da cidade e que às vezes, só às vezes, pensa, Lisboa também poderia ser minha.

domingo, 6 de outubro de 2013

X-factoring II

Cute-cute-cute! Está devia ter levado o filho para o palco com ela, ganhava logo vantagem dupla.

X-factoring

Aquando da prestação da primeira candidata a sério no Factor-X.

Mãe (rija e durona): Porque é que aquela palerma está a chorar? (referindo-se à Sónia, jurada)

[Mary Jane verte duas lágrimas silenciosas e reza para não ser detectada]

Instrução de vida 12 (207)

207. Set short-term and long-term goals

Estava com saudades de ir aleatoriamente buscar um número ao meu livrinho de ensinamentos de vida e hoje a ruleta russa atirou-me precisamente com uma coisa que tem mexido comigo.

Há uma coisa que me enerva muito na maior parte das palestras motivacionais ou discursos inspiradores com os quais até gosto bastante de me entreter associados ao Ted ou ao Ignite que é a parte em que algures no meio de todo um embalo "you can do it" aparece um alvozinho associado às palavras "defina objetivos" como se isso, tão só, fosse simultaneamente a causa e a solução de todos os problemas! E isto enerva-me e é idiota porque acho que sim, está bem, definir objetivos é importante, mas o mais difícil não é definir objetivos, é agarrarmo-nos ao raio da rotina e ao trabalho que nos vai permitir chegar lá e disso - das coisas práticas que é bom e que se quer! - ninguém fala nessas palestras motivacionais.  Talvez porque não se possa explicar com palavras coquetes... Nisto, de cada vez que um discurso que até ia bem embalado esbarra ali no raio do alvo, que reflete um conjunto de chavões comuns que não são mais do que balelas repetidas de maneira diferente, apetece-me estrafegar a pessoa, mesmo assim à distância e por telepatia, e perguntar-lhe se por acaso é só a fazer pontaria que se atingem objetivos.

Acessos de dona de casa exemplar

Tive um ontem e à custa disso enfiei-me no frigorífico e depois de 5 segundos em contemplação era ver os meus braços imparaveis em experimentação rítmica de técnicas de organização diversas. Em meia hora tinha uma prateleira livre e diversos produtos dentro de um saco para o lixo.


Está a emergir outro ataque flash em mim. Não durará mais do que meia hora e grita pelo meu armário da roupa, coisa que nunca se organizará em meia hora. We'll See. . .

sábado, 5 de outubro de 2013

Afinal não é um deus...

O momento em que percebemos que o nosso deus Grego vai deixar até essa platónica e longínqua condição é aquele em que subitamente parece que o mundo pára, que a magia sobre a qual ele parecia viver em suspenso desaba, e ele vira de uma entidade extra-terrena, carregada de peso e densidade, uma realidade distante e romanticamente imperturbável. Em termos mais simples é o momento em que cai a ficha e se percebe - ele já está noutro filme - sem que exista um qualquer discurso direto ou diálogo para sondar esse facto. 

Estranho é perceber quão súbito, seco e cortante pode ser este momento. Não é sucedido por um crescendo de tensão a subir pela garganta fora; não é acompanhado de olhos subitamente humedecidos e brilhantes... Cai seco quando tudo antes era revestido de um manto de invisibilidade profundo e pesado... E cai num momento pleno de densidade como aquele em que ele narra com o corpo ,embalando a figura esbelta que o compõe e os gestos que fazem dele a criatura mais etérea que já se viu - e que me recordavam vividamente porque é que o endeusei -, um dos momentos mais marcantes da sua vida. Se estava de boca aberta devo tê-la fechado quando ouvi, com uma imensa candura na voz e um olhar de anjo caído, "(...) na primeira vez que dava banho à minha filha"- zás-trás, continuando sentada, desci num segundo à cave de um apartamento de 10 andares estando eu no 10º. Instituiu-se em mim o bloqueio imediato que inibe qualquer entusiasmo sentimental e a formulação de planos romantico-delirantes nas horas vagas quando sei uma pessoa numa relação. Caiu. E caiu seco, porque seca e vazia era a história que havia. Mas era giro este andar sobre as nuvens... Já ele passou  a ser alguém humano e entregue pelo que imune aos meus olhares caçadores de contos inenarráveis. Em compensação, se a aura o largou ganhou em densidade psicológica e em interesse pessoal, tornando-se alguém de quem eu não apenas recebo instruções mas com quem troco algumas ideias e perspetivas.